Dois poemas de Silvia Rosa traduzidos do italiano por Prisca Agustoni
Silvia Rosa nasceu em Turim, onde mora e trabalha como professora. Formada em Pedagogia, frequentou o curso de escrita criativa da Escola Holden. Textos seus em poesia e prosa foram publicaos em diferentes antologias e revistas e já foram traduzidos em espanhol, sérvio, romeno e turco. Entre suas publicações, constam “Tutta la terra che ci resta” (Vydia Editore 2022), “Tempo di riserva” (Giuliano Ladolfi Editore 2018), “Genealogia imperfetta” (La Vita Felice 2014), “SoloMinuscolaScrittura” (La vita Felice 2012), “Di sole voci” (LietoColle Editore 2010 – II ediz. 2012), todas de poesia; a antologia “Confine donna: poesie e storie di emigrazione” (Vita Activa Nuova 2022, curadora); a antologia foto-poética “Maternità marina” (Terra d’ulivi 2020), da qual é curadora e fotógrafa. É vice-diretora da revista digital “Poesia del nostro tempo”, redatora da revista online “NiedernGasse”, além de colaborar com a revista “Margutte”, com o anuário de poesia «Argo» e com o jornal «il manifesto».
Prisca Agustoni nasceu na Suíça italiana, viveu muitos anos em Genebra, onde se formou em Letras e Filosofia e onde obteve um Master em Gender Studies. Desde 2002 vive entre a Suíça e o Brasil, onde trabalha como professora de literatura italiana e comparada na Universidade Federal de Juiz de Fora. É poeta, tradutora, autora de livros para a infância. No Brasil, integra o comité editorial das Edições Macondo e colabora com diversas revistas e editoras com traduções. Na Suíça, faz parte do conselho curador do Festival Literário Internacional Chiasso Letteraria. Entre suas obras mais recentes, os livros O mundo mutilado (Quelônio, 2020, Finalista Prêmio Jabuti), O gosto amargo dos metais (7Letras, 2022, prêmio Cidade de Belo Horizonte), Verso la ruggine (Interlinea, 2022).
Os poemas abaixo integram o livro Tutta la terra che ci resta (Vydia, 2022).
***
1.
È nota la gracilità vegetale di certi sorrisi,
altamente deperibili nell’attesa di una spunta
che accerti, con il supporto del wi-fi,
l’esistenza di una connessione d’intenti,
una prospettiva fertile, il principio di una passione
ecologica e maneggevole. A tal fine studiamo,
dall’età di sei anni in poi, manuali di istruzioni
di tutte le epoche, approfondendo al bisogno
le dinamiche degli scambi emotivi,
sotto la supervisione di guru d’assalto.
Così lastrichiamo la strada di buone intenzioni
e di messaggi, come le miche di Pollicino,
e forti del nostro istinto e dei mille anelli
di Saturno che ci danno alla testa con le loro
cosmiche oscillazioni, scivoliamo con stile
su bucce di banana come trappole di colore
nelle circonvoluzioni della materia grigia
/
É notória a fragilidade vegetal de certos sorrisos,
altamente perecíveis à espera de uma seleção
que verifique, com o suporte do wi-fi,
a existência de uma conexão de intenções,
uma perspectiva fértil, o princípio de uma paixão
ecológica e manobrável. Para tal, estudamos,
dos seis anos em diante, manuais de instruções
de todas as épocas, explorando à exaustão
as dinámicas das trocas emotivas,
sob a supervisão de gurus de assalto.
Assim sendo, pavimentamos a rua com boas intenções
e mensagens, como as migalhas de Polegar,
e com nosso instinto e os mil anéis
de Saturno que nos atordoam com suas
cósmicas oscilações, deslizamos com estilo
sobre casca de bananas como gaiolas de cor
nos giros da massa cinzenta
*
2.
Viviamo in gabbie stile hi-tech,
con soffitti pseudo interstellari e un dedalo
di ferro e acciaio, in cui lacerti di discorsi
viaggiano tra filari di cavi. Sfregano contro
indifferenze cosmiche, stridono di indolenza,
si capovolgono in giravolte meccaniche
i cimeli del vecchio mondo, ora in disuso.
Dalla preistoria delle prime capanne di paglia,
del paravento di tende come un intonaco alzato
alla schiettezza del nido, ricordano l’architettura
difettosa dei corpi, quel loro disfarsi, uno sbiadire
costante e inevitabile. Ma se opponiamo gli scudi
dei bit, qualcosa di noi resterà anche dopo
l’assedio della carne, noi ci eleveremo più in alto
della trasparenza al quadrato che ci osserva
col suo lanceolato occhio infrangibile,
non conosceremo più l’attrito degli equinozi,
l’usura dei giorni che ci guasta le fondamenta
/
Vivemos em gaiolas estilo high-tech,
com tetos pseudo interestrelares e um dédalo
de ferro e aço, onde réstia de discursos
viajam entre fileiras de cabos. Esfregam contra
indiferenças cósmicas, guincham de preguiça,
viram em piruetas mecânicas
as relíquias do velho mundo, já em desuso.
Da prehistória das primeiras cabanas de palha,
do biombo de cortina como um reboco elevado
à sinceridade do ninho, lembram a arquitetura
defeituosa dos corpos, aquele seu desfazer-se, um desbotar
constante e inevitável. Mas se opomos os escudos
dos bit, algo de nós permancerá depois
do assédio da carne, nos alçaremos para além
da transparência ao quadrado que nos fita
com seu olho lanceolado e infrangível,
não conheceremos mais o atrito dos equinócios,
o desgaste dos dias que nos estraga os alicerces.
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Prisca Agustoni: