Dois poemas de Tomaz Amorim Izabel
Tomaz Amorim Izabel, 32, é pesquisador e poeta. Seu primeiro videogame foi um Mega Drive em que orgulhosamente terminou Mortal Kombat II. Lança no fim deste mês, Meia lua soco, seu segundo livro de poemas, pela Editora Primata.
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fosse a vida um videogame
seria uma fita de super nintendo
com gráficos fracos
e jogabilidade média
intercalaria
fases impossíveis
com outras fáceis demais
seria um jogo dependente
da história
de percurso obscuro
e enredo sobrecarregado
a trilha sonora
além de tudo
pobre e repetitiva
os personagens caricatos
preocupados apenas
em acumular pontos
diante de tais jogos
o jogador experiente conhece
o impulso
de jogar o controle no chão
apertar o power
e mudar de fita
mas não há outra fita
essa interrupção temporária
acompanha todos os mestres
que já fecharam um clássico
e ganharam o direito de se gabar
para os amigos
a vida é um pouco como Battletoads
*
o real renderizado
o doce de leite
salivando dos lábios
a gota de suor cromo
escorrendo da cordilheira
daquelas costas bronzeadas
o real renderizado
no canto dos lábios
um sorriso branco
cheio de cálcio white max
tripla ação super fresh
não fosse um pontinho-
prismático no canto do olho
dizendo algo profetizando
incômodo
o triste pixel morto
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