Dois poemas de Wender M. L. Souza
Wender M. L. Souza atua como redator publicitário/ revisor. Tem como formação a área de Letras, na qual carrega o título de mestre em Estudos Literários pela UFMT. É revisor dos livros As luzes que atravessam o pomar e outros contos (2018, Carlini & Caniato), Obscuro-shi: Contos e desencontros em qualquer cidade (2016, Carlini & Caniato) e Subterfúgios Urbanos (2013, Editora Multifoco), de Wuldson Marcelo; Scarlet e o branco (2012, Editora Multifoco), de Eliete Borges Lopes; Me LiterAtura (2016, Carlini & Caniato), de Rafaella Elika Borges; e da coletânea de contos e poesias Beatniks, Malditos e Marginais em Cuiabá: Literatura na Cidade Verde (2013, Editora Multifoco).
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ainda que não se queira perder
Ainda que não se queira perder,
perde-se.
Mesmo que tudo se faça,
ainda perde-se.
Até o que nunca fora seu
ou o que ansiava um dia ser,
com mil certezas,
perde-se.
Ainda que não se queira,
até a certeza que nunca irá perder,
um dia, também se perde.
Até mesmo o poema de Elizabeth Bishop,
em algum momento,
há de se perder neste mundo caótico,
perdê-lo em cinzas,
talvez como em uma distopia.
Perder, rotineiramente, o domingo
que passa lento e cansado,
o número de telefone
do mais lindo ser que já tivera visto,
e perder de um modo tão natural
que nem notara que perdera.
Tudo um dia há de se perder
e de se esquecer que perdera.
A vida ávida também se perde
ao encostar a cabeça no travesseiro
ou as costas em um assento,
perdendo-se a vez e a voz.
Porém, um dia, também há de se perder o medo
e o receio de perder,
e, talvez, ao perdê-los tudo estará perdido,
com milhões de chances de se encontrar.
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a bailarina dança em seu aquário
a bailarina dança em seu aquário,
e eu, em meu aquário,
às vezes sentado, por vezes em pé,
a observo com olhos
de menino de dez anos,
não como um de seis,
que ama sem saber que ama,
e implica e zanga,
nem como quem escreve poemas
quando se tem quinze,
mas dez, amando em silêncio.
Vendo-a por apenas alguns segundos,
enquanto meu aquário passa distante
em frente ao seu,
mas, mesmo assim,
criando um mundo para nós,
sem mesmo ela saber.
A bailarina dança
com pequenas criaturas que a seguem,
como se a flauta de Hamelin ouvissem,
tudo que vejo é pouco nítido,
quase mais sentido, adivinhado.
No meu aquário, sou um astronauta,
que vê um mundo azul
e não pode fazer nada,
somente me conformar
que a bailarina dança,
vive, ama, sem perceber meus olhos a olhar
seus passos em seu aquário.