Dois poemas e dois vídeos-poemas de Baga Defente
Baga Defente é poeta, editor & artista-etc. Formado em Direção e Roteiro pela 1º turma da Academia Internacional de Cinema (AIC-SP), nos últimos anos teve seus videopoemas exibidos em mais 10 países e desde 2015 também se dedica às publicações independentes, tendo publicado cerca de 15 títulos entre obras suas e de outros autores através do NADA∴Studio Criativo, um híbrido de ateliê de criação multimídia com microeditora independente.
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POEMA SOBRE POEMA INVENTADO NA MADRUGADA
no meio da madrugada
por entre grilos & cigarras
no chiaroscuro da luz lunar
por entre pernas peitos & lençóis
a noite sendo
você me pediu
“fala pra mim um poema”
assustei — minha memória
é falha — escrevo-esqueço, expurgo
escrevo porque não sei falar
se soubesse, em vez de poeta
eu seria um rockstar
tua audácia juvenil:
“inventa um então”
esquivei —
“poema não sai assim,
menos ainda sob pressão”
insistiu “aaaaah vai,
inventa”
inventei, óbvio: foi péssimo
rimas banais na primeira
conjugação. eu estava extasiado
entumecido & relaxado
não havia palavras não havia peso
não havia nada mas depois
enquanto você dormia eu
mentalmente ligava os pontos
perdidos na tua pele traçando
incríveis constelações inventadas
pensando que o melhor de todos
os poemas síntese de toda poesia
karma-cósmica era ter você ao meu lado
vestida apenas com a tua beleza
no calor duma calma madrugada
— o animal que há em ti anima
& aninha a minha alma.
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POEMA COM (MUITO) MANJERICÃO
domingo de manhã depois
de preparar o desjejum
lavar a louça suja tirar a mesa
da chuva & varrer a poeira da sala
fui arrumar as roupas acumuladas
bagunçadas espalhadas pelo quarto
& dentre tantas camisetas cuecas
pequeninas meias sem seus pares
encontrei uma blusinha sua
nela senti seu cheiro &
toda a saudade que eu (em vão)
tentava não sentir de uma vez
desabou sobre mim
então eu pensei que o olfato
— assim como a música —
são as formas mais práticas &
acessíveis de se deslocar pelo
continuum do espaçotempo
pois eu quero dormir dentro do
teu peito numa noite de chuva cheia
sentindo as gotas batendo nas telhas
meu coração pingando na tua alma
escorrendo pela madeira
pois cada mínimo detalhe do teu corpo
— cílio escápula cicatriz —
é um pequeno pedaço de paraíso perdido
esperando para ser descoberto
sob o sol quente o vento gélido
neste delicioso outono policromático
pois tentando (te) sentir
teu pensamento
maravilhado & assustado
te vejo lava líquida
rosa hibisco
manjericão
Elias Borges de Campos
Gostei. Talvez a música do primeiro vídeo-poema devesse estar um pouco mais baixa pra apreciarmos mais o poema. Uma belezura!!!