Dois textos de Yasmim Dalila
Yasmim Dalila B. é pesquisadora, economista e escritora. Está mestranda em economia na UFMT, investigando tudo o que dá na telha buscando caminhos para uma sociedade equânime e realmente livre. Sempre que possível, transforma suas investigações nos mais variados textos.
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Você viu a foto da Adele?
Fiz essa pergunta a Felipe logo após ver a primeira foto da Adele postada em 2020. A foto não tem nada demais: é ela no meio de um arco de flores. Só que a imagem dessa Adele que vemos na foto não é uma imagem, até então, conhecida para nós. É visível a mudança corporal que “chocou” boa parte das pessoas. Mas a questão aqui não é essa, e sim a relação da sociedade com o corpo feminino que se transforma. Até porque, as mulheres não podem engordar ou emagrecer sem que isso vire assunto.
O primeiro pensamento que me ocorreu (o qual compartilhei com Felipe) foi: “por quê? Por que Adele cedeu aos padrões de beleza dos anos 10?”. E aqui percebi o erro da minha frase. A questão não é ela “ceder” ao padrão “Barbie blogueira” — e fazer o que quiser com seu corpo — e sim os (cansativos) comentários “elogiosos” sobre a beleza dela que só vieram à tona agora. E isso é frustrante porque ela sempre foi bonita. Em diversas entrevistas, quando perguntada sobre seu corpo — especificamente sobre seu peso — Adele dizia que mudaria se prejudicasse sua saúde e que não era para a mídia — ou para qualquer outra pessoa — se importar com isso ou comentar. Caso semelhante aconteceu e acontece com várias outras artistas em entrevistas.
E aqui quero relembrar duas histórias — também sobre corpos — que se conectam de certa forma com as transformações do corpo da Adele: o da Beyoncé após a gravidez dos gêmeos e uma entrevista da Ronda Rousey.
Antes de continuar, e relacionada, a primeira história é preciso pontuar duas coisas: (i) com o envelhecimento é normal haver mudanças no corpo — Beyoncé, por exemplo, tinha por volta de 35 anos quando os gêmeos nasceram; e (ii) a gravidez talvez seja o processo natural que causa as mudanças mais significativas no corpo da mulher — sempre bom lembrar que a gravidez dos gêmeos foi a segunda da Bey.
Após sua segunda gravidez, Beyoncé idealizou, preparou e performou o maior e mais significante show dela até então. Não à toa se chama Homecoming (Coachella de 2018, disponível na Netflix). Nos meses que antecederam ao Homecoming, ela se submeteu a um processo rígido de emagrecimento e melhora de condicionamento (dignos de qualquer atleta de alta performance em época de competição). Mas aqui, esse processo tinha um propósito: aguentar 2 horas dançando e cantando em cima do palco por dois finais de semana consecutivos num dos maiores festivais de música. No pós-Coachella o corpo dela mudou, de novo; transformou-se no corpo da Beyoncé, com 36 anos, com duas gravidezes na conta e três filhos.
Já sobre Ronda. Quando criança, Ronda Rousey, lutadora profissional, começou a lutar, ainda muito nova, por influência de sua mãe — ex-judoca estado-unidense. A entrevista em questão aconteceu em 2015 como parte de um vídeo pré-luta no UFC (se não estou enganda), onde Ronda comenta sobre seu corpo — sua forma — ter sido desenvolvido para um propósito: exercer sua profissão como lutadora.
Uma parte da fala da Ronda é a seguinte : “(…) quando as pessoas dizem que meu corpo parece masculino, ou algo assim, eu digo: ‘ouça: só porque meu corpo não foi desenvolvido para foder com milionários, não significa que seja masculino. Acho que é feminino e bad-ass (foda) para caralho, porque não tem um músculo no meu corpo que não tenha um propósito (…)”(em tradução livre).
A conclusão que tiro disso tudo é que a sociedade só acha bonita a forma feminina seca, sem graça, sem história da “blogueira fitness”. A mulher a qual o corpo passou por duas gravidezes, é atlético e “masculino”, ou o que se transforma pela saúde — e propósitos que não nos cabe saber — é reduzida à uma forma feia, pública e exposta num palco passível a qualquer comentário e julgamento.
Para mim, não existe beleza maior que aquela intrínseca à um corpo com história e propósito.
Tempo errado ou o descompasso dos encontros
Parece sempre acontecer e acabo me perguntando se o problema é comigo. Estaria o meu compasso tão descompassado? Imagino se o problema sou eu, se preciso “arrumar” alguma coisa pra alguém (você) ficar. Penso também na incerteza da vida e do meu futuro próximo. Não sei onde no mapa estarei ou até quando estarei. Mas ninguém sabe, essa é a verdade. E fico triste e feliz. Triste por conta do medo que por vezes me toma. O medo de não merecer ser amada. O medo de sempre ver o outro indo embora. Mas feliz por descobrir, nos entra e sai das relações passageiras, que me amo mais que tudo. E mereço mais que todo esse pouco de carinho já recebido. Como diria Duda Beat, “todo carinho do mundo para mim é pouco“.
Mas guardado, em um canto escuro, renegado ao qual, por muitas vezes, não ouso me aproximar, está a insegurança. A insegurança vive, respira e me questiona inúmeras vezes. Será que um dia estarei suficiente para alguém ficar? Será que um dia meu compasso vai perder seu descompasso? Ou será que algum dia vai ser o tempo certo com quem gosto?
Muitos serás. Muitos descompassos. Muitos tempos errados
Fernando Lopes
Excelentes textos Yasmim.
Nos faz pensar, refletir e entrar em suas convicções, dúvida, incertezas sobre ações tanto no presente como no futuro e de alguma forma sentimos uma necessidade de participar dessa sua jornada.
Seus Textos intrigam, propõe e nos levam para um novo estágio de reflexão, são concisos sem perder e transmitir suas excencias, além disso são harmônicos (… o segundo principalmente), esta é minha dica … transforme em música, você mesma ou com parceiros
PARABÉNS Yasmim.
Arq. Fernando Lopes.