Duas crônicas e dois poemas de Laís Rodrigues dos Santos
Laís Rodrigues dos Santos, nascida na cidade de Jaboticabal, interior de São Paulo, 20 anos e graduanda do curso de licenciatura em Pedagogia pela Universidade Federal de Uberlândia. Reside atualmente na cidade de Ituiutaba, Minas gerais. Autora não publicada, compartilha o que escreve pelas redes sociais, especificamente em sua página no instagram: @poesiadecorpo. Mulher, negra, periférica, bissexual e ativista pelas lutas feministas. Escreve para viver e resistir; escreve com liberdade e amor.
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Antes de você, ou antes de um outro alguém.
Eu jurava que te conhecia, mas isso até acordar em plena terça-feira de primavera e, te observando vestir suas roupas, perceber que o coração que te pulsava antes, hoje anda fraco e perdido em meio a tantas perguntas que tenho me feito sobre nós.
Penso se eu sou a mulher da sua vida, assim como você sempre diz no fim da noite… e se por acaso eu for, pergunto-me quem é o homem ou a mulher da minha?
as terças-feiras parecem-me favoráveis a reflexões…
E se eu precisar que alguém seja tudo isso pra mim, pergunto-me se realmente escolheria você… se realmente seríamos nós..
Te levo até a porta, às 7 horas da manhã, e te perco de vista da mesma maneira como se perde algo que nunca se teve… sinto que nunca te tive, querido…
sinto que nunca te tive….
E mesmo se tivesse, por quanto tempo eu me senti a mulher da sua vida e quanto tempo demorou pra que eu desconfiasse disso?
Não sei se aceitarei seus próximos convites de visita, não sei que dia te vejo novamente e caso eu veja, acho que por agora, não saberia o que te dizer.
Faltam-me palavras, sobram-me conflitos…
Pois quero saber alguém é o amor da minha vida antes.
E quero concluir que eu mesma seja, antes de você, ou antes de um outro alguém.
Te vejo em breve, ou não sei quando, te vejo em breve ou quando puder…
*
Brasil, 27 de março de 2020
era início de inverno, especificamente durante uma pandemia mundial e eu estava longe do meu querido amor. Sem poder toca-lo, sem poder beija-lo e sem poder qualquer coisa que pudéssemos fazer, caso estivéssemos juntos (no mesmo espaço, tempo e sensação).
Mencionarei-o como “meu querido amor”, não por sigilo ou algo semelhante, pois nunca escondi o afeto, menos ainda a quem meu afeto chega, mas é que “meu querido amor” é o modo como a gente se chama… as vezes é “meu querido poeta” ou “minha querida poetisa contemporânea… mas “meu querido amor” sempre foi nosso e a intenção é que esse mero texto escrito numa noite abarrotada de saudade se torne tangível a quem nos lê. Que por falar em leitura, ele, (meu querido amor) foi a poesia mais bonita que eu já li na vida…No entanto a mais complexa delas, a mais infinita e flexível. Leio-o em todas as linguagens possíveis. E a mais apaixonante é a língua de sinais… ele dá sinais de que me ama genuinamente em todas os momentos do dia, direta ou indiretamente…e isso não pra estar sempre colocando o amor em prova, e sim porque era deliciosa a sensação de conforto e certezas que, quando como um lembrete consciente, ele não me deixasse esquecer que nosso amor era o retrato do mundo pincelado em aquarela …E não digo mundo de modo generalizado. Você que está nos lendo pode imaginar infinidades com a frase; mas digo mundo porque o que nos marca é tão grande que derrama… cabe dentro de tudo e ainda sobra…
E eu sempre fui de lembra-lo sobre o amor que sinto também… e eu jamais me esquecerei do seu amor por mim.
é amor de poeta…
Falei tanto sobre ele, que me desatentei a questão que agora tanto me dói: estou longe do meu querido amor, como já citado anteriormente. Sem ao menos poder toca-lo, sem poder beija-lo, sem poder qualquer coisa que pudéssemos fazer, caso estivéssemos juntos (no mesmo espaço, tempo e sensação).
Hoje conversamos via Instagram, e, enquanto ele me enchia de informações sobre seu dia e sobre como estava aliviado por descansar em nós em tempos de desafeto, eu sentia suas palavras digitadas… e me derramava a sentir tua presença em pensamentos. É uma linha tênue entre a poética da saudade com a poesia desesperada em tempos como esse. Mas eu te sentia, mesmo a incontáveis níveis de distância. Acho que tem muito do meu querido amor em mim. Mais do que eu poderia expressar.
Noto que, passadas primeiras demonstrações de interesse, naquele encontro num parque de São Paulo, e analisando possíveis histórias caso a nossa não fosse real, eu jamais colocaria nós num texto…
porque o nós se encaixa tão direitinho que eu ainda não sabia que existia tamanha possibilidade. Tamanha imensidão… de nós.
espero que não me desate tão já.
pois até suas palavras digitadas acalentam meu peito cansado.
Procuro nossa última fotografia que coloquei junto da minha agenda e nela leio seu bilhete com palavras sentíveis como “te sinto na mesma intensidade que vivo”.
Eu me deito e acordo com saudade, mas no entanto te sinto intensidade feito um pássaro em seu primeiro voo em liberdade.
espero te ver em breve.
Para meu querido amor, you.
*
se te quero tanto
assim mesmo sem te ter
rebobino na memória
todas as paixões platônicas
que já tive ao decorrer da vida
e percebo o quanto isso se tornou
natural pra mim.
senti tanto. tanto que nem sei quanto,
que o importante pra mim,
não era não ter você, alguém,
era não parar de sentir.
e isso que me amedrontava,
a falta que o sentir me causaria.
a dialética ainda há de me matar…
porque ao mesmo tempo que
me dói sua ausência
me acalenta o coração pensar
que eu ainda pulso, que eu ainda sinto.
e tudo fica bem
porquê eu sei que vou me apaixonar de novo.
– equilíbrio poético
*
e por falar em saudade
onde guardaste meu coração?
que perdido ou escondido,
ficou com você desde aquele dia.
23 de Maio daquele ano triste.
e por falar em saudade,
o que fizera com as lembranças?
tenho sonhado com a gente,
naquelas noites gostosas com filmes clichês e
beijinhos apaixonados.
e por falar tanto em saudade,
qual é a sua?
será que sente saudade minha?
daquelas vezes que eu te abraçava
nas madrugadas de inverno
porque você sente muito frio
e adora meu aconchego…
lembra daquele dia?
se não lembra, eu lembro bem.
naquele ano tal, naquela barraca de pastel,
daquela senhora que você pegou amizade
no ponto de ônibus, lembra?
enquanto vocês conversavam empolgadas sobre a vida,
eu só observava se você conseguia ficar mais bonita,
e você sempre conseguia.
eu tinha certeza que te amava.
por isso te dei meu coração.
que por falar em saudade,
onde anda você?
meu peito continua contigo,
se não quiser mandar de sinal de vida,
ao menos devolva aquilo que é meu.
saudade de me sentir completa.
a última vez que me senti assim,
foi naquela tarde bonita, estávamos nós e a família,
você me deu uma gata cujo nome era Camomila,
e eu entendi que eu não precisava de mais nada,
eu tinha tudo e mais um pouco.
saudade disso e daquilo.
você poderia ao menos me ajudar a romper
com todos os laços que fizemos, esses que eu
não consigo romper porque eu só sei sentir saudade.
você poderia colocar um ponto final
e guardar o livro na gaveta,
já que eu continuo voltando no tempo, cheio de memórias, cheio saudades.
você poderia terminar com agentejunto,
já que eu nunca terminaria e não termino.
mas antes poderia devolver meu coração,
que por falar em saudade…
onde o guardou?