Angolano tem muito a ensinar às periferias do Brasil
Por Rodivaldo Ribeiro
Boa tarde. A Tag COLUNAS – SKYZONAMÍDIA irá marcar meus escritos próprios para este espaço onde vou publicar minhas impressões sobre diversos assuntos. Entre eles, claro, literatura. Achei adequado estrear com minhas percepções sobre como foi uma das 20 entrevistas que considero mais importantes em minha carreira no mundo escrito, iniciada oficialmente em dezembro de 2002, com a publicação sobre o que entendia, na época, ser o disco Nada Como Um Dia Após o Outro Dia, dos Racionais MCs, no jornal Diário de Cuiabá, onde voltei a trabalhar recentemente.
Dito isso, nesta abertura, compartilho meu entendimento sobre a figura de Arthur Carlos Maurício Pestana dos Santos, Angola e algumas conexões possíveis com o Brasil e o modo de vida experimentado pela maioria da população do país. Não há periodicidade definida. Escreverei quando tiver vontade e os demais editores acharem viável. Boa leitura.
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Pepetela é sempre lembrado quando o assunto são nomes de candidatos fortes ao Prêmio Nobel de literatura para a língua portuguesa, mas nunca viu realizar-se — à parte os critérios da Academia Sueca, acusada de progressista por uns e conservadora demais por outros — a “indicação” dos colegas de ofício de renome tanto no Brasil quanto em Portugal e, claro, sua Angola nativa.
O fato de já ter vencido o maior prêmio literário em português, o Camões, corrobora a tese. Pepetela esteve em Cuiabá em maio de 2017 e concedeu uma entrevista exclusiva à reportagem na época, publicada num site local, o RD News, e que republicamos hoje por força de sua atualidade e porque foi feita com vistas a este projeto, só efetivado meses depois da agradabilíssima conversa que tivemos — eu e o fotógrafo Gilberto Figueiredo — com o escritor, em uma padaria de Cuiabá, numa tarde ensolarada, com a presença de papagaios, araras e capivaras a atravessar a avenida em frente, rumo ao Parque Municipal Tia Nair, localizado a 150 metros dali.
Como dito na entrevista hoje republicada aqui, boa parte da história dele foi marcada por essa luta pelo livramento de sua pátria ideológica e de nascimento.
Seu primeiro romance, Mayombe, conta como foi uma parte considerável da existência dele, entre os sonhos e medos comuns a todos os integrantes de um grupo de revolucionários na Guerra de Libertação de Angola contra Portugal, o colonizador. É pautado em soluções fonéticas baseadas na oralidade própria do português falado por africanos e subvertido pelos dialetos locais.
O recurso também fora utilizado nas novelas As Aventuras de Ngunga (escrita na floresta de Mayombe em 1972, durante os intervalos dos combates armados e onde foi impressa em mimeógrafo) e em Muana Puó (1978).
Neles, é possível ver primeiro certa preocupação pedagógica em manter vivas lendas e mitos angolanos e posteriormente o desenvolvimento de alguma tristeza com o rumo que as coisas tomaram a partir das vitórias nos combates armados contra o Exército de Portugal.
Três eram as frentes de libertação e busca pela independência.
Logo que o colonizador se retirou, em 1975, começaram a se matar entre si e, pior, com a população civil no meio. Cada uma dessas frentes era apoiada por um país estrangeiro. Era o fim do sonho da união de uma nação livre e forte pós libertação das mãos do povo da Lusitânia.
Trabalhadores de Angola nos anos 1970
Seus outros livros são O Cão e os Caluandas (1985), Yaka (1985), Lueji (1990), Geração da Utopia (1992), O Desejo de Kianda (1995), Parábola do Velho Cágado (1997), A Gloriosa Família (1997), A Montanha da Água Lilás (2000), Jaime Bunda, Agente Secreto (2001), Jaime Bunda e a Morte do Americano (2003), Predadores (2005), O Terrorista de Berkeley, Califórnia (2007), O Quase Fim do Mundo (2008), Contos de Morte (2008), O Planalto e a Estepe (2009), A Sul. O Sombreiro (2011), Crónicas com Fundo de Guerra (2011), O Tímido e as Mulheres (2013). Crónicas Maldispostas (2015), Se o Passado Não Tivesse Asas (2016), além das peças de teatro A Corda (1978) e A Revolta da Casa dos Ídolos (1980).