“Giramundá: o Congo e a Diáspora” (2018) – Por Andreza Pereira
Giramundá: o Congo e a Diáspora. Direção: Cláudio Dias e Gilson Costa. País de Origem: Brasil, 2018.
Em Giramundá, gira o Congo, que torna o rito dança, drama e rememoração. É um documentário que narra conscientemente os acúmulos de voltas e tempos dessa manifestação. É nova linguagem que se soma, com seus códigos e símbolos, às já torcidas linguagens do Congo para contar uma antiga história.
As cenas começam juntando homens que vão encenar a dança mais um ano. Vindos de cidades grandes de Mato Grosso, eles se encontram com os de Nossa Senhora do Livramento, onde têm em comum a ancestralidade quilombola. Foi ali que o Quilombo de Mata Cavalo se estabeleceu, eivando o espaço de identidade coletiva. A partir desse recolhimento, a narrativa fílmica da Dança do Congo de Livramento se constrói, por diferentes vias e recursos.
A narrativa se constrói por palavras, pelo relato oral de pessoas que fazem parte da encenação e de antigos moradores locais, que acompanham os cortejos. Suas falas sobre tradição e fé atribuem e atualizam significados acerca da expressão cultural que conhecem há tanto. Ela se constrói por imagens, imagens do corpo que se curva na reza, se apruma na dança e dá conta de panelas enormes para agradar o santo negro. A música move-se fluida nessa alternância narrativa: a reza cantada por uma devota numa cena pode tornar-se a toada de fundo para que a mesma personagem, agora enquadrada como força de imagem em outra cena, se poste diante de São Benedito.
Passando por várias histórias dos que viram o Congo se entranhando na cidade, o documentário olha também para os mais moços, que imaginam os filhos ao redor da dança. Olha para como o Congo acumula ainda espaços, vindo de navio da África e se misturando com o céu católico brasileiro. Vai abaixando as palavras e desembocando para um final de ação. Os homens, vestidos com capas e carregando ganzás, estão prontos para o embate de reis. Eles se enfrentam com bastões e coroas, e marchando os passos, fazem girar a memória.
*Documentário premiado pelo Júri Oficial com uma menção honrosa pela relevância, pesquisa e realização.
**Texto escrito a partir da programação (mostra competitiva) da 3ª Mostra de Cinema Negro de Mato Grosso, em Cuiabá (MT), ocorrida no período de 09 a 11 de novembro de 2018.
***Andreza Pereira. Possui graduação em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo e em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Mato Grosso. É Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos da Cultura Contemporânea, onde pesquisou a relação entre Jornalismo e Literatura. Escreve para o Parágrafo Cerrado.