Três poemas de Katherine Funke
Katherine Funke é doutoranda em Literatura pela UFSC, também é compositora, cantora e fundadora da Editora Micronotas. Tem seis livros publicados, sendo o mais recente Sem pressa (Bolsa Funarte de Criação Literária). Em 2017, recebeu medatalha de Personalidade Literária do Ano da Academia Catarinense de Letras e Artes (Acla).
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armo meu tiro
digo bom dia
tomo veneno, parece café
fico sabendo notícias tristes
sobre a mulher morta na minha rua
por tiro de arma de fogo, pelo próprio marido
digo bom dia
tomo café, parece veneno
fico matando as notícias da minha rua
sobre a mulher que o próprio marido
entristeceu para sempre
com um tiro de arma de fogo
digo bom dia
tomo notícia, parece tiro
fico sabendo que o café está triste
sobre a mulher morta aqui na minha rua
digo bom dia
*
mais Jards
os hippies todos da minha rua
estão ouvindo Jards
passaram da idade
de acreditar
os hippies no youtube
com Jards
meus amores
minha paz
neste instante somos
dois
mundos
bem divididos
eles, memes
nós, comedores de farinha
eles, o escárnio
nós, o desprezo
mais Jards,
menos já,
menos ir,
mais ficar,
menos partir.
os hippies da minha rua
estão ouvindo
meus segredos
*
só na cabeça cabe o sopro
a cabeça sabe à beça
botar gravata bonita
não esconde o bicho
a cabeça saca a meta
um tiro nela e tudo acaba
conto de fadas de vidro
a cabeça caça a cara
melhor máscara mortuária
para abafar o grito
só na cabeça cabe o sopro
segredo intuição silêncio
ou pesadelo infinito