Oito poemas de Felipe da Fonseca
Felipe da Fonseca nasceu em Queimados, baixada fluminense do Rio de Janeiro. É editor de texto, antiproibicionista, flamengo e poeta, autor de Ícaro ocaso (2010), Ecce humu (2011) e Fósforo frio (2017), livros que pretende reunir em Miserabilia (2010 – 2020) ano que vem, caso ainda haja país.
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[Inéditos]
POEMA TIRADO DE UMA NOTÍCIA DE PORTAL
Yukinobo Sato
31 japonês
cometera suicídio
uma única vez
por excesso
de trabalho
concluíram investigadores
*
E Q U I L É B R I O
xerografia para Paulo Bruscky
*
[do Fósforo Frio (2017)]
IRRISÕES
I
conscious of
the world. Yet
W. C. Williams
em Morro Agudo
vi um cavalo
magro
deitar
seu cansaço
numa poça d’água
que viria a tragá-lo
*
II
i.m. Donizete Galvão
a
pomba
uma pomba
branca antes por acaso
que por metáfora fugiu
como dentro dos piores
sonhos fugiu aos carros
aos cães ferida nas asas
do olho bom da pomba
branca algo que
a anima
sse foi
se
*
[do Ecce Humu (2011)]
BREVIÁRIO
como dois amantes
trançassem os dedos
sem darem por isso
e um rubor mestiço
lhes pendesse dos olhos,
como quatro amantes
não soube ser Deus
*
POETA MENOR
eu nasci, vá lá, poeta.
mas como nascesse anão.
a mim tocar
tocar interessa
enfim, onde
não pode a mão.
*
[do Ícaro Ocaso (2010)]
ESFINGE
outrora alta ex
fingia. Agora
salta e me devora
*
AS-
SIMETRIA
desconfia
das mulheres equilibradas
essas são
loucas de pedra
ou
bustos de bronze