Os 7 chacras da poesia – Por Michel Yakini
Muita gente me pergunta quais são os principais frutos colhidos nesses 13 anos organizando saraus de poesia falada. Pra mim, a maior satisfação é ver uma pessoa chegar no sarau, continuar frequentando e, pouco a pouco, elevar a coluna e o crânio.
Pense: você chega num sarau, pela primeira vez, com a típica timidez, lendo com aquela tremedeira, com um livro tapando o rosto, e ainda recebe um aplauso fervoroso. Na segunda vez a tremedeira é menor, o rosto aparece, um leve sorriso, o texto desliza e mais aplausos. Em poucas semanas é normal gesticular, falar alto, decorar o texto, fazer coro, dar gargalhadas, erguer a cabeça e aprumar a coluna. Falar poesia em saraus é um caso sério de saúde pública.
A poesia faz morada na alma da linguagem, no corpo sutil da palavra, que faz ligação com a espinha, enche o diafragma, preenche o coração, exala na garganta, expande a fronte e se espalha pela coroa. Por isso, tenho certeza que quando falo poesia, ativo os 7 chacras do corpo.
Os chacras são rodas de energia, coordenadoras das funções hormonais. Na base coluna firma o chacra raíz, no umbigo o chacra sexual, perto do estômago o chacra do plexo solar, no coração o chacra cardíaco, na garganta o chacra laríngeo, na testa o chacra da 1ª visão e acima do orí o chacra coronário. Quando essas rodas desarmonizam é comum sentir desequilíbrio físico, emocional e mental e perceber tudo meio bagunçado. A percepção exterior também é um reflexo da estrutura interior.
Há também os 7 chacras da poesia, presentes nos poemas de protesto que contestam as contradições humanas, nas estrofes eróticas que seduzem e versam a sexualidade, nas poesias de afeto que atiçam a emoção, dão frio na barriga e batedeira no peito, no canto que exprime a lírica da voz e nos textos metafísicos e abstratos, ativados na intuição da pineal e no brilho da coroa.
Sou o exemplo vivo desta ativação. Nunca tive vontade de falar em público, me sentia exposto, envergonhado, faltava nos seminários pra não dizer nada em voz alta. Mas quando criei coragem e liberei a energia falando poesia, senti a liberdade criar asas, as palmas acaloradas subirem pelo corpo, pulsarem no coração e, desde então, minha consciência não foi mais a mesma.
O hábito de falar poesia devia ser receitada pela medicina. Por exemplo: se a pessoa estiver sentindo dores no peito, crises de ansiedade, sistema nervoso abalado, confusão na cachola ou dores na coluna, o médico poderia ajudar no que for preciso e receitar poesia em voz alta como tratamento complementar. Sugerir pra falar em casa, no chuveiro, no quarto, depois ir no bar, na praça, na rua ou nas lives, até encontrar outras pessoas que fazem o mesmo pra se sentir melhor.
Já vi gente se tornar escritor de tanto confiar nesse tratamento. Além de muitas outras, que nunca lançaram um livro ou sequer escreveram um poema, mas ao se permitiram liberar as tensões na palavra, se alinharam pela poesia e deixaram o crânio mais leve, questão de equilíbrio.
Gosto de ativar os chacras falando poesia nos saraus, firmando os pés no chão, fazendo batucada pra vibrar no umbigo e harmonizar com o coração, gosto de exercitar os ouvidos atentos e a palavra solta, pra oferecer o melhor e magnetizar a atenção. Agora os encontros poéticos só mesmo no virtual, mas nada que impeça o poema evaporar por aí, tomar vida própria e caminhar sem destino neste tal de infinito. Experimente, eu recomendo.