Pequenos rascunhos
ontem me pararam na rua de cima
da casa onde renasço todos os dias
sem rodeios enfiaram o dedo dentro das minhas misérias
interpelando, já pelas minhas costas,
“sobre o que rascunha?”
…
queria dizer que não,
não deveriam se preocupar
com essas linhas amarrotadas
que o livro de coisas que inundam minha cabeça
e redemoinham meus sentidos
nunca seria um problema
apenas mais uma neblina na manhã
aquela que se apaga
quando a arduidade de cada dia fica no cume do céu
mas era mentira
um dia essas linhas todas vão me derrubar
incendiar os muros de dentro para fora
vão me despir sem sensualidade nenhuma
derrotar com suas meias palavras anuviadas
e então
terei de lidar com a vastidão
prestar contas
às duas metades solitárias