Ping Poesia 9 – Edmar Scarabello e Andri Carvão
Trazemos hoje mais um episódio da série de curadorias com os poemas do Ping Poesia, projeto idealizado por Andri Carvão, Noélia Ribeiro e José Danilo Rangel, que originalmente consiste na gravação de um vídeo com uma dupla de poetas fazendo um rápido ping-pong com trechos de seus poemas. Aqui, na Ruído Manifesto, as leitoras e os leitores poderão ler os poemas utilizados na íntegra e também assistir ao vídeo, veiculado inicialmente na página Ping Poesia. Desta edição fazem parte os poetas Edmar Scarabello e Andri Carvão.
Edmar Scarabello é formado em Engenharia Mecânica pela Universidade Federal de Uberlândia [MG], com especialização em Gerenciamento de Projetos pela Fundação Getúlio Vargas [RJ]. Possui 10 anos como Gestor de Projetos de Subestações de Energia e vasta experiência internacional. Viveu nos Estados Unidos, Portugal e Alemanha. De origem humilde e infância difícil, redirecionou sua carreira para “tentar” devolver para a vida o que a vida lhe deu através da Educação. Atualmente é Professor e Palestrante no interior do Ceará. Reside em Jijoca de Jericoacoara. Amante das palavras, da Escrita e da vida em prosa e poesia. Participa de Simpósios e Saraus poéticos. Alguns de seus textos são publicados nas redes sociais e revistas especializadas.
Andri Carvão cursou artes plásticas na Escola de Arte Fego Camargo em Taubaté, na Fundação das Artes de São Caetano do Sul e na EPA – Escola Panamericana de Arte [SP]. Graduando em Letras pela Universidade de São Paulo, há colaborações do autor em diversas revistas e antologias. Suas últimas publicações foram Um Sol Para Cada Montanha [Chiado Books] e Poemas do Golpe [editora Patuá]. Integra o Coletivo de Literatura Glauco Mattoso, criado pelo profº Antonio Vicente Seraphim Pietroforte, apresenta poetas e poetos no Simpósio de Poetas Bêbadxs em parceria com Thiago Medeiros e é um dos idealizadores do Ping Poesia juntamente com Noélia Ribeiro e José Danilo Rangel.
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Sequência de Edmar Scarabello
aprendi com a vida que
por vezes
para ser feliz
o melhor a se fazer
é desaprender
*
é quando o sol baixa sua guarda
que a lua sai para brincar
eu já vi guarda para sol
alguém já viu guarda para lua?
*
varia de pessoa para pessoa
leva-se um tempo até sentir
que a melhor forma de gozar a vida
é gozando
*
em tempos de relacionamentos
que escorrem pelas mãos
tem gente que é tão verdadeira
que até parece que é feita de mentira
*
ainda que você deixe de acreditar
na primavera
a vida há de florescer
novamente
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Sequência de Andri Carvão
As velhas idéias
são sempre
as grandes idéias.
As novas idéias são faíscas
– demandam certo tempo
para pegar fogo.
*
Onde mora a Poesia? Ela não mora, se esconde. E onde a Poesia se esconde? Ela se esconde no caos. * – Qual é o seu gênero preferido? – Poesia. – Não, me refiro a masculino, feminino… – Poesia! * O banheiro é a minha igreja e a poesia, minha oração. A minha religião é a poesia. * A poesia é o meu tatibitate. A poesia é a infância da humanidade. * Fazer, refazer, perfazer, por fazer – isto é poesia. * Você quer guardar um segredo bem guardado? Publique-o num livro de poesia. * Escrever poema é fácil. Quero ver é alcançar a Poesia. * O poeta pede esmola aos mendigos. * Cada poeta defende o seu Tempo. Mas não existe mais O Poeta, assim como não se tem mais tempo. * Os escritores se dão uma importância desmedida. Principalmente os poetas. * Poetas amigos: um agarrado no rabo do outro. Poetas em geral: um de cu virado pro outro. * A poesia é para poucos, para tão poucos, mas tão poucos, que muitas vezes não é nem para os poetas. * O ego do poeta matou a poesia. * A poesia não tem preço, mas vende-se poesia. * Poesia, nem de graça. * Poesia – desatada sangria. * Poesia é um pedido de socorro. Poesia é libertação. * Quanto mais profundo, mais elevado. * Ninguém se entende porque todos têm razão. * De vez em quando um pum poético, de quando em vez um petardo. * As velhas idéias são sempre as grandes idéias. As novas idéias são apenas faíscas: demandam certo tempo para pegar fogo. * Emoldurar espelhos reflete bem o painel da Arte Contemporânea. * O esconderijo ideal é o labirinto. * Você sabe o que eu tenho na língua além de veneno? Você não sabe o que está perdendo. *
*
O poeta pobre
O poeta pobre era o preferido de Hitler.
O poeta miserável, o poeta faminto.
O poeta devia morrer dormindo.
Mas o poeta se suicida.
O poeta se embriaga e se mata,
bebe até cair na sarjeta,
bebe até morrer.
O poeta é a ponte.
O poeta usa a corda como gravata.
O poeta dá um tiro no peito.
O poeta dá um tiro na boca.
O poeta dá um tiro na ideia.
O poeta é um passarinho de chafariz,
presa fácil para os gaviões.
O poeta que consegue viver da escrita
escreve prosa.
O poeta boêmio. O poeta solteiro.
De preferência sem filhos.
O poeta sem eira nem beira.
O poeta que só dá conta de si e das coisas do espírito.
O poeta pé sujo dorme na rua.
O poeta depende da caridade dos amigos
e dos conhecidos. O poeta na pior
grato por saber que podia ser pior.
O poeta lido por outros poetas,
poetas amigos e detratores.
O poeta é um bicho estranho,
é um troço, um treco esquisito,
um sem lugar.
Poeta bom é poeta morto.
A poesia tem que acabar.
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Agora, assista ao vídeo