Três poemas de Carlos Amorim
Carlos Amorim é poeta e crítico literário. Em 2017, lançou seu primeiro livro de poemas, a obra “Entre dias e noites” (Multifoco: RJ). Para o poeta, “a linguagem artística recupera os instantes que foram amortalhados no cotidiano”.
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Escritor
Linha por linha –
o ser humano vence o abismo
com a asa flamejante do verbo
*
Teu nome
Teu nome é uma doce primavera.
Dizê-lo é pressentir um vento repentino,
é cantar uma ária de Mozart.
Eu sonho uma utopia que me lembra as curvas
cíclicas do teu nome.
Um dia morrerei ao pronunciá-lo.
E os legistas descobrirão a fonte do meu sorriso.
*
Soneto
Nos olhos um dilúvio, na boca um deserto,
e a estrada sem fim que nunca se há de chegar.
Mas por que estamos longe e não estamos perto?…
Sol por todo o lado, por todo o chão luar.
Caminho entre as urzes meio trêmulo, incerto…
E sigo tão depressa… E vou tão devagar…
agora um corpo nu, que antes vinha coberto,
me arrasto sobre a terra exaurido, sem ar.
Eis a minha figura – torta, esfarelada –
o fim da vida encerra a nossa jornada,
pois não existe, ao longe, o prêmio da estação…
E caso inda vivesse, errante, por mil anos,
a morte, tão fatal, que apaga os desenganos,
torna-se das verdades a única razão…