Poesia e rebeldia: a voz de Rodrigo Brito – Por Joe Sales
A coluna “Divagações de Joe” (clique aqui para acessar todos os textos da coluna) foi criada por Joe Sales [Rondonópolis/Mato Grosso, 1991]. Poeta, professor de Língua Portuguesa e mestre em Estudos de Linguagem. Publicou cinco livros de poemas pela Editora Penalux: Porta Estreita (2014), Ao passo das horas e outro descabimentos (2015), Criticepopular (2015), Largo do amanhecer (2017) e Pelas luas: a mesma encruza (2019). Possui participações em várias antologias nacionais. Atualmente, desenvolve o projeto “leituras clandestinas” em que vozes convidadas dão vida aos contos do livro Clandestinamente.
***
Poesia e rebeldia: a voz de Rodrigo Brito
Rodrigo Brito – autor mato-grossense – é daqueles poetas que fazem a teoria se perguntar: o que pode o verso? Seu lirismo, desde a primeira obra Solstício ao Luar (2013) e depois em VISÕES (2015), concentra-se em imagens que se desvencilham do concreto, fazendo o leitor mergulhar numa comunhão com seus sentidos.
O autor também é professor, mestre e doutorando em Estudos de Linguagem (UFMT). Para ele, os sentimentos constituem a força de sua produção. Além disso, comenta que
Quando entro em contato com uma teoria, busco colocar em prática a partir da forma como foi repercutida em mim. Esse processo inconsciente eu vivencio também quando me inspiro nas leituras ou em filmes ou em qualquer outra situação do cotidiano.
De leitura altamente imagética, a poesia de Brito nos convida à reflexão do presente, da morte, da sexualidade, do próprio fazer poético, como convém a literatura contemporânea em seu ofício.
As referências do poeta passam por autores clássicos a referências políticas com as quais se identifica. Como exemplo, cita-se Álvares de Azevedo e Guilherme Boulos, sem deixar de apontar as canções Rock anos 1980 e as palestras de Vladimir Safatle.
Em relação à descoberta da literatura, o poeta conta que seu contato se deu por meio de redes socais, em que acompanhava os relatos de experiência de outros leitores.
No quesito leitura, deixou soar seu anseio pela crítica literária destinada às suas obras, embora se sentia feliz pelas trocas de comentários sobre seus versos. Enquanto estudioso do universo da linguagem, relata que a literatura sempre se faz presente em sua prática de Coordenador do Curso de psicologia, em Cáceres. Segundo ele,
A literatura tem um papel fundamental em meu trabalho de Coordenador de Curso. Os projetos de extensão que eu elaboro buscam sempre um olhar mais sensível para a sociedade. A ideia é sempre sair do vício do diagnóstico e oferecer eventos em que o debatedor ensine um novo olhar e novas possibilidades de estudos e de vida. O cotidiano é muito maior do que “como vencer a ansiedade” ou “passos para sair da depressão”. Um profissional da Psicologia que trabalhe em diálogo com a Literatura e outras artes tem uma compreensão maior sobre a produção de subjetividade, sobre acolher e cuidar.
Dessa forma, Brito vem caminhando pela literatura. Deixo agora três poemas inéditos do autor e o convite à leitura e possível crítica de sua obra.
*
Não estar
Se me coloco em uma borda
Outro córrego surge
Não forma um discurso
Aquilo chamado de externo
Repercute um conceito inconcluso
*
Dezenove horas e oito
O tempo cabe em uma gota de suor
e se termina o sonho
a produção não encontra o sentido
Infeliz é o burocrata
algoz de sonoridades dos versos
aquele que desligou o som dos mares
Quando mumifica o pensamento
gera espaço para tabelar as ações
longe de si distante do desejo
*
Bomba
Costumo costurar os começos
sem nenhuma imagem
e isso salta aos órgãos
como um sono de sábado à tarde
Não dá para dizer o hálito do azar
o cansaço aos olhos das flores
diante da primeira contradição
força os dados para a derrota
A origem do início
termina a fronteira do nojo
_
Instagram e Twitter: @rodrigoffbrito