Quatro poemas de Ana Fátima
Ana Fátima (Cruz dos Santos) oriunda de Salvador-Bahia, licenciada em Letras Vernácula, Mestra e Doutoranda em Crítica Cultural (UNEB). Ativista do movimento negro, Iya Egbe do Ilê Axé Iboro Odé, educadora e CEO na editora Ereginga Educação. Realiza formações continuadas para professores e oficinas sobre Contação de Histórias infantis. Enquanto escritora de Literatura Negra tem poemas publicados em diferentes antologias nacionais e internacionais. Ocupa a cadeira 051 da Academia Internacional Mulheres das Letras. Livro autorais publicados:As tranças de minha mãe (1º ed, Editora Uirapuru, 2018), Makeba vai à escola (Cogito, 2019, edição bilíngue), Tunde e as aves misteriosas (Editora Ereginga Educação, 2020, edição trilíngue), Tunde and the mysterious birds (Editora Ereginga Educação, 2021, edição inglês/Libras) e o livro de poemas Já fui água um dia (Penalux, 2019).
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FORÇA ANCESTRAL
Por mais que façam tombar corpos negros
Mais corpos negros nascerão…
Por mais que façam tombar corpos negros
Mais corpos negros nascerão
e farão brotar
Novas vidas negras e brilhantes.
Reajo,
Não me passo
Ergo minha lança além do traço
De seus devaneios de feitor.
Por mais que façam tombar corpos negros
Mais corpos negros nascerão.
Dos nomes que carrego comigo
Identidades multiplico,
Mais guerreiras negras
Replico,
Ecoando respeito e dignidade.
Salve Tereza de Benguela!
Salve Maria Felipa!
Salve Luisa Mahin!
Salve o quilombo de nossas memórias
Salgadas de além-mar.
*
EU-MÃE: MEU TEMPO CHEGOU
Sim!
Gestaciono alegria, emoção, gravidez e gravidade.
Chegou o dia: sou mãe!
Começo a curtir as sensações, os desconfortos e a esperança.
Amadurecendo a cada segundo,
Divido com meu companheiro
Com minha materna,
Com meu axé
Esse momento de explosão e felicidades!
Diante de tantas batalhas e muitos sucessos
És o grande desafio: mãezar.
Verbo de conjugação eterna.
Sim!
Em breve, verão meu baby correndo por ai,
Dando sorrisos e espalhando belezas.
Reunindo o axé das miudezas da vida.
Que Osun banhe de alegrias minha cria,
Nanã, salúbá, para saudar e dar saúde,
E Iyémònjá para prosperar as águas da vida
Do ser que se aflora dentro em mim.
*
Tambores de África
Tambores de África
Tambores ancestrais
Tambores que acompanharam
Nossa trajetória pelos mares,
Pelos lares, pelos terreiros do nosso país.
Tambores para saudar orixás
Inquices, vodunces, caboclos encantados,
Reis, imperatrizes, imperadores,
Princesas e tobôssis.
Tambores para homenagear yialorixás,
Babalorixás, rumbonas, nenguas,
Dones, mobas, ogans,
Ekedes, makotas e deres.
Tambores para contar lendas de África:
Falando da água, dos rios, dos mares,
Do vento, do fogo, do raio,
Do trovão, da lama, da terra e das matas.
Tambores para acompanhar ritmos,
O movimento da capoeira, do maculelê,
Do samba de roda, dos reisados,
Das festas do divino,
Do boi de encantado,
Do bumba-meu-boi
Que bumba meu coração
Que é diáspora
Que é paixão
Que é mulher negra.
*
Tecelagem da hora
E com o desenrolar da roda
Desato o novelo do Racismo
Costurando diplomas e livros
Ao lado de jovens negros
Bem sucedidos.
Faço parte da minha história.
Canto a resistência de outrora,
Navego em mares de sangue
Muito antes mergulhado pelos irmãos
De cor e amor
Mas são os olhos em brasa
E a palavra afogueada
Que argamassam e rejuntam
Os passos ascendentes
Da juventude negra vitoriosa.
Nem um passo atrás,
Nenhuma marca de isolamento.
Estamos todos em chama viva
E contínua,
Ardendo a glória de batalhas vencidas
Nessa trincheira chamada Racismo à Brasileira.
Rozana Gastaldi Cominal
Poemas incríveis! Bate forte o tambor!