Quatro poemas de Augusto Krebs
Augusto Krebs nasceu em Chapada dos Guimarães, e reside em Cuiabá onde é graduando de Regência na UFMT. Trabalha com música na noite, dá aulas e arrisca versos e canções.
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Vênus
Para Ana Flávia Guimarães
Ermo som que palpita em minhas retinas
te vejo e te escuto no escuro dos poros e do poder óbvio das coisas
no sabor enferrujado
deste latim ensanguentado
de corais
corais cintilando como girassóis de dar boa noite, dar bom dia,
na abóbada escura
por vez celeste de nossas cabeças
batendo à porta dos ouvidos de outras pessoas
Um abraço que cabe ao quarto
mas não às vias públicas
nem quando bem quer
e a gente sabe
a gente sabe que a ciência e a razão
ambas existem e servem apenas para tatear
tudo o que nossa incapacidade e miséria com muito custo alcança
uma história possível a um espaço circunscrito
– guepardos estirados no chão de minha sala
e como guepardos estirados num cochilo preguiçoso que não existe ao resto da vida.
– a onda não receia quebrar
investe para que todos vejam, todos sintam
a presença de um acontecer infatigável
Pudera ter
a força de mil cantos, das aves
estas que entoam o sol e sua beleza
quando chega devastando a escuridão por de cima dos telhados
os desgostos não impedirão a manhã de cingir seu tamanho, trôpega sem escárnio,
de cumprir seu destino
de arranhar nossas gargantas com o vermelhidão seco que anuncia nossa violenta primavera
Como a prece enterrada em meu peito
sustendo viva
o mesmo labor e a certeza dos astros
que se afogam e se lançam com devida certeza ao seu itinerário de morte e cigania
na noite
cumprindo o caminho no Eterno
no espaço
E a gente se pergunta:
como finda o caminho o cintilar de uma estrela?
Não finda.
*
Manhã Cuiabana
A manhã é ladeada de pássaros
radiante e poderosa
em passos que atravessam solidões
Os fulgurantes raios, em trajetos esboçados para soerguer o edifício do dia
tangenciam manobras nas bocas
e a morte das crianças
– também a inocência rica
De tão claro este sol faz de nosso céu o escafandro
e incomoda como veia prestes a desabar aos borbotões
porque impertinente e explícito, contente nos rememora o fato de que reticências silenciosas não sobrarão
somente os vestígios de elegias caboclas para o vento embalar
contra os paredões
O domingo de meus olhos
vai sangrar manchetes nos jornais
– rezo para.
*
Capítulo X
Lá
onde batem as ondas
do mar
carregadas de saudade
enterrarei o coração
Pra que num suspiro a água
me leve
Pra que eu não precise
nunca mais voltar
*
Léo
Síria devastada
pergaminho, caneta, fuzil
Rosa preta
Fuzil e retalho
na sarjeta da tarja preta
suor in periferia vil
Gueixa enfeitada
de luz do luar
na esquina d’luz vermelha
Teu preço é alto, reclama o céu
tua ambição também é alta – trama de Babel
Prostituta mãe de todas
as carnes das nações
beijam aves estes véus rubros por sobre o horizonte
do Oriente, do MiddleEast
Cabe mais dinheiro na tua vida?
Na cantiga de ladrão?
É o destino dessa terra,
castigo para terras negras.
Pássaro engaiolado.
Mais um sabiá cantando a meia noite nos escuros dos bancos
tormento sem brando, a desgraça nas ruas do teu país…
Mais um sabiá cantando a meia noite nos sussurros pálido cinza em branco do teu coração…
… e a vida é menina que não tem medo de errar o passo do canto no meio da noite.
É muito sangue derramado no Éden,
no verão do Mundo