Quatro poemas de Carina Carvalho
Carina Carvalho nasceu em 1989, em São Paulo. É autora do livro de poemas Marambaia (Editora Patuá, 2013) e da plaquete Passiflora (edição da autora, 2017). Tem textos publicados em algumas revistas digitais e impressas e em breve lança seu novo livro, Corpo clareira (no prelo, pela Editora Feminas). Em <clcarina.wordpress.com> é possível acompanhar um pouco desses caminhos.
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Poemas do livro Corpo clareira (Editora Feminas, no prelo)
canção noturna para melodia nenhuma
dois dos muitos pontos de brilho no asfalto
distorcem sutilmente o reflexo da lua
(que tudo o que tem de nua,
pede chuva)
as noites de súbito úmidas
são um balé com corpos tortos
e eu não sei em que ponto do tronco
foco o guarda-chuva para o que não me revela
o outro
tudo o que nunca revelará
– diz que pra atrair mirada
fixa-se um ponto na nuca
e, com um tempo,
a pessoa olha
(mas não há tempos)
fugisse das pessoas ligeiro
corria a noite, solta
e fixava era o mar
*
a conta de luz veio estourando
dentro de casa
reviso verde e maduro das frutas
espanto os pernilongos que querem morar nas minhas pernas
já na sua
você finge não sentir minha falta
come biscoitos olha a hora evita mensagens longas
a comunicação se quebra mais ou menos às 4 da tarde
golden hour
água e sal.
*
Poemas da plaquete Passiflora (edição da autora, 2017)
http://parapassiflora.tumblr.com
toda vez que as flores não voltam
suas cabeças para dentro do cômodo
em busca de luz, pego meus sapatos e compreendo
por quantas camadas de cimento ainda se pode
ver a coragem?
quão longe vai o balanço da árvore mais alta
até que a primeira folha a observe com cansaço?
perscruto a terra no que toca meu corpo
e não sem esforço diviso algum rosto
na parte de trás dos ciprestes que em meses férteis plantei
é dura a escrita quando lhe quebram as mãos.
se por muito tempo for janeiro,
vou apoiar as costas nas costas da calma
e construir uma poesia de paciência
sem que haja tempo para o incômodo
com as marcas que o jeans causa na minha virilha
nesses dias tão quentes
*
prólogo:
a luz do banheiro entra pela janela clara,
bate no meu peito e o estoura
.
ou são meus óculos
pisados no sonho?
também fazem som de coisa trincada
– foi você
e foi proposital
no que me curvo para recolher
os cacos translúcidos,
caminhos de sangue se fazem no dedo
em formato de raiz bem fincada
neste momento capturo o sonho
e prometo levar pelo dia
(no peito)
amostra, mesmo ínfima,
de uma figueira brava
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