Quatro poemas de Cristiane Tolomei
Cristiane Tolomei é doutora em Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa pela USP. Atua na Universidade Federal do Maranhão como professora adjunta da área de Literatura; é docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade (PGCult). É líder do Grupo de Estudos e de Pesquisa Literatura, História e Imprensa (GEPELHI/UFMA/FAPEMA). É organizadora dos livros Literatura, linguagem e ensino: momentos de reflexão (Pedro & João Editores, 2011), Entre Fronteiras: reflexões sobre linguística e literatura (EDUFMA, 2016), Entre língua(gens), tecnologías e discursos (Oficina da Leitura, 2018), Culturas, Tecnologias e Ensino de Línguas (Oficina da Leitura, 2018) e Gênero, Raça e Sexualidade na Literatura (EDUFMA, 2018); e autora das obras A recepção de Eça de Queirós no Brasil. Leituras do Século XX (Scortecci, 2014) e A lenda arturiana reescrita na literatura infanto-juvenil (Pedro & João Editores, 2017). E-mail para contato: cntolomei@yahoo.com.br.
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O violinista
Entre a folhagem
o encantamento.
Na solidão da rua
um violino toca sua angústia.
Som que atinge o mais divino de nós,
e a escultura, a pintura, a literatura
ficam à margem quando o violino toca.
Subversão da realidade,
notas elípticas.
Labirinto da alma!
Sob a luz do sol
o poente se esvai,
em vão procura um caminho
mas bebe docemente a música.
Mãos translúcidas,
melancolia sonora.
Sob a luz do luar
alma resignada.
Estrelas testemunham
o poeta entregue à música.
Folha branca.
E no calor das notas
as palavras desencantam
na força arrebatadora do som do violino
que ecoa a imaginação.
*
René
Homem jovem, o que vês?
Claridade, espectador, artifícios
Ruas, janelas, pessoas, árvores
singularidades imagéticas
pensamentos…
Homem jovem, o que vês?
Quadros, composição, Paris
Beleza, reflexo do eu, sombra
que traz calma e impressiona
pensamentos…
Homem jovem, o que pensas?
Prédios, céu azul, dama,
Mundo interior e exterior
na rotina do pintor e do trabalhador
projeções.
*
Devaneio masculino
No quadro,
um homem contemplativo
entregue ao devaneio,
deixa cair o livro sobre o colo
e passa a contemplar a mulher.
Envolvido em seus pensamentos,
imagina momentos íntimos com a desconhecida.
Imagina-a aberta
seduzida
carinhosamente o tocando.
Na pintura,
pinceladas luminosas,
o homem contemplativo
bebe a mulher.
O artista utiliza cores brilhantes
para ilustrar sua técnica.
E, por fim, cria o devaneio masculino
diante da presença feminina.
*
Entardecer de verão na praia
Fundindo-se entre cores
duas mulheres caminham próximas,
compartilhando segredos.
Peles delicadas sob o sol escaldante
transpiram paz.
Os pés delicados, molhados pelas ondas,
levam as mulheres ao horizonte.
Imagem etérea
que as palavras não ousam ilustrar.