Quatro poemas de Everton Mateus Moura Castro
Everton Mateus Moura Castro, nascido em 11 de setembro de 1993, na cidade de Humaitá, estado do Amazonas, é formado em Letras – Língua e Literatura Portuguesa e Língua e Literatura Inglesa pela Universidade Federal do Amazonas. Professor de língua inglesa na SEDUC/AM, demonstrou interesse pela escrita poética quando tinha 13 anos ao ler o Soneto de Fidelidade, de Vinicius de Moraes. Com alguns de seus poemas publicados na sua página do Instagram @poemasinacabados, Everton continua escrevendo e com intenções de publicar seu primeiro livro.
***
Bebi a última gota
Do vinho das flores despetaladas
Do cálice a mim transpassado
Na euforia de um ínfimo anseio
Que foi consumado
Sentei à mesa para a última ceia
Multipliquei as migalhas
Joguei aos porcos as pérolas
Sorri e vi minha cabeça
Servida em uma bandeja de prata
Coroada de espinhos por meus irmãos
Na comunhão dos santos
Da janela vi Madalena
Minha Madalena
Apedrejada e cuspida
Tentada no deserto
Da sua própria carne
Grito por ela!
Ela me nega!
Nega meu nome
Nega minha voz
Nega minha casa
O galo cantou
É chegada a hora
Nos braços de Maria
Sou traído com um beijo.
***
Entre a poeira e o suor
A lama se fazia no rosto sisudo
De um certo João
Um lápis na orelha
Um cigarro no canto da boca
Um olhar perdido entre os tijolos e os cimentos
Entre a areia e uma música qualquer no seu radinho a pilha
Todos os dias a mesma rotina…
Acordar, tomar o café preto
– quando havia –
Encarar o dia de Sísifo
A pedra rolando e o cume cada vez mais distante
O único som que penetrava os ouvidos desse pobre diabo
Era a amarga nota das gotas de suor caídas da sua própria face …
João que não chorava mais
João que se acostumara com os calos
João que comia aquele pão
Assim seguia a vida…
Uma sirene soou virando a esquina
E no olhar de João se levantou um muro
Do seu suor, um oceano
A poeira se fez tempestade
E uma fruta podre caiu do pé
Quem ouviu seu assobio?
Quem lhe serviu um café frio?
Quem é João?
Ao final do dia, uma florista sorriu
Vendeu uma rosa, mesmo que murcha
E Maria passando um último café
Chorou…
***
É o dia-a-dia de Babel
A confusão das línguas
Dos passos, dos laços
Não se ouve
Um pensamento
Uma voz
É ruído
Buzina
E fumaça
Cai a garoa
Esfria o café
Azeda o leite
Na contramão da via
Corre a rua
Do atropelamento das horas
Na curva da esquina
O verde desbotado geme
No último suspiro
Entre as pedras, muros e prédios
Os olhares pedem pressa
Ligeiros
Perdidos
Sob o céu de pouco azul
O amigo é o pombo
Que mendiga a migalha
Para encher o papo
E os amores?
Modernos e líquidos
É o transe do trânsito
Numa transa louco
De darkroom.
*
A quietude do tempo
Pairou sobre os meus ombros
Em uma leve dança
De assombro e paz
Aos meus olhos
Revelou a luz tardia dos dias
Erguida em sombras
E no desfalecer contínuo do sol
Adormecido no breve sono dos deuses
Mostrou-lhes anseios adoecidos
E trouxe o aroma das noites vencidas
Marcando uma nova era
O início e o fim de uma outra odisseia
Em que o final já foi revelado
Pelas linhas tortas de um deus escritor
Para as minhas mãos
Contou histórias inacabadas
Da pena gasta
Do tinteiro seco
E dos dedos já cansados
Do peso das palavras
Tocou meus lábios
Que badalaram como sinos descompassados
Na queda da grande basílica
Dos velhos Santos de outrora
Santos, que nos fardos do anos
Já não sabem
Dos sons e das fúrias
Do inesperado Amanhã
Atingiu-me à queima roupa
Como uma flecha fora de curso
E nos meus ouvidos
Falou da língua dos Anjos
Da língua da Serpente
E da história de um verbo que carne se fez
Na decadência da alma humana
O mundo se despedaça.
Amanda chaves
muito bom seus poemas, parabéns!!
Bruno Ribeiro
Lindos poemas. Continue escrevendo, quero comprar seu livro. 🤩