Quatro poemas de Fabio Saldanha
Fabio Saldanha é graduando em Letras (Português/Japonês), autor de dois livros pela Editora Patuá (2015; 2017); acreditando que escrever ajuda, prepara algo para chamar de terceiro livro.
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七月十九日
viver a mercê de esperar
que a prova contrária de tudo
continue a chegar me parece
o alimento ideal para que
nunca de fato se chegue
no momento final para
o teste de todas as
teorias conspiracionais
vistas até agora.
como prova da realidade
talvez só me restam
as constantes dores de
estômago por não cuidar
corretamente do corpo da
maçã de fora –
doideira de si mesmo,
um pequeno grito abafado
com as duas mãos no
chão do banheiro
implorando:
me ajuda.
*
飛行機で
que o estômago não é
necessariamente o órgão mais
forte já é de conhecimento
geral e intensamente
difundido já dos dizeres
para borboletas pterodáctilos
e toda a parafernália
ingerida para que um
caminho seja a devida
tortura e ainda sim
fortuna de saber
tudo mudou
tudo
mudou
e ainda assim com mais
entradas a serem vistas
nas pistas de pouso dos
meus cabelos e um
tanto preparado para todo
e qualquer desafio se a
memória não me cria
uma imagem deslocada
de mim mesmo
onde o passado começa
a ser refletido como
um grande momento
de mudança um grande
furacão
estamos
todos com os olhos
presos
nele
estamos enfiados demais
no presente
pensando no futuro
enquanto não nos sobra
muita força para parar
em pé e mesmo sabendo
são só mais dois oceanos
na certeza de ver que filas são o inferno
vivido e ainda que andando ou não podemos de fato saber
mudamos
e mudamos muito
ser tentar parafrasear a portuguesa
que de fato só me lembro do primeiro verso
que deve ser mais o título
e não parte estrutural do que vem
tocando na sua cabeça
de qualquer maneira
estamos mudando
e nos ventos
do búfalo
continuamos
*
スターバックスで
e é comprovado por estudos pesquisas
e apontamentos já declamados na tv
em voz baixa para que não se assuste
para que a luz seja mantida
assim no limbo entre estar
tão baixa e rarefeita que se
sente sono que não se lê que
não se move prontamente
baseado nos próprios desejos
e que de carne se sabe
não um jargão pronto mas
algo que transita entre
eu quero ir embora
e
eu não gosto daqui
e mesmo assim se
lê
esperando mais um pouco
que a música local suma mesmo
ela permanecendo e mesmo
que ela não se vá ainda assim
se lê esperando uma resposta
e o que já se sabe é que a
poesia é necessária e faz
sentido mesmo ao comparar
com um traço musical nota
cantada verso que emenda
e diz
eu não gosto daqui
eu não quero ficar aqui
me tira
daqui
*
eu vou botar fogo no mundo
só deixa pra lá que a música
uma hora volta a tocar
na sua cabeça como antigamente
quando os movimentos
entre as curvas que
davam medo podiam ser
ressignificados e sim vai em
frente ainda há versos
dentro do cão que você
não se lembra de ver na
geografia daquele mundo
em particular e pensar eu
passo pela rua em que
escreveram um poema
sobre tem um lugar legal
nessa rua faz parte do meu
dna essa rua a palavra
DNA só veio parar
aqui porque o
corretor sugeriu
e vai
mesmo que a música
nunca volte a tocar
você precisa tocar
alguma coisa então
toca um barco um
pianinho ou
mesmo um
foda-se
mas toca algo
pra poder sempre
lembrar que a vida dá
desses momentos
em que não se faz
um verso bonito
e muitas vezes nem
bem escrito
mas se a história é
mesmo esse processo
em que maneiras
diferentes de se relacionar com a estrutura semântica
da ficcionalização
estão sempre operando
de maneiras diferentes e
mudando e girando e girando
então ninguém liga
você também não precisa
e se isso não entrar pros livros de
história da literatura
que nem é lá tão direit_
e nem é lá tão universal
então tudo bem
assim como você
que ficou aqui
tentando encontrar de novo aquela musiquinha que tocava todo dia
toda vez um pouquinho lá dentro
e te tirava da cama pensando
sim vai
vai ser legal
vai ser legal
(a musiquinha vai voltar
eu prometo)
(mas você vai ter que fingir
por enquanto)
(e vai doer)