Quatro poemas de Gilda Portella Rocha
Gilda Portella Rocha é artista visual e textual. Em 2021 publicou: Revista Ser MulherArte, Revista Conexão Literatur” e antologia Do que ainda nos sobra da guerra, pela editora Ipê Amarelo. Em 2020, Suplemento Acre 019 Edição; Revista Itan, Revista D-Arte, n. 12 e Revista Ligeiro Guarani 10/12.
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TAPUIA
Retina escura miudinha
Rosto mãos enrugadas
Cabelos grisalhos
Vida benção recebida
Na Cuia o parco feijão andu
Colhido na praia do Leleu
Alinhava a roupa da família
Blusa branca e saia preta
Última casa da Rua
No Cantinho do Céu
Refugia Nina em outras vivências
A escutar causos da velha Tapuia
Herdara o gosto de produzir suas coisas
Ressignifica a vida e o consumo
Apreendera o poder mágico das plantas
No quintal dos sonhos
Terra é elemento sagrado
Fé encantadora presente no todo
Casa e fogão a lenha por varrer
Guardiã mil segredos
Luz imaginava a casa ser Portal
Marina que os moradores
Eram de outros Planetas
*
FRAGMENTOS
Cartografia peregrina
Romeiro de si mesmo
Percorre as ruas nuas
Despe-se dos Reis e Generais
Interpreta Elizeu da Dona Joana
Personagem ouve “Catarina Morreu! ’’
Desloca fora de si
Delira transvertido
Balé inconsciente
Gesticulação tenta sair do transe
Dualidade vê a gurizada correndo
Vozes ecoam
“Lizeu, Catarina Morreu!”
Dor atravessa a alma
Abre os portais insanos
Descortina-se a ausência
Instantes performáticos
Tentativa de engolir-se
Mastiga a própria carne
Cicatrizes escuras no braço
Dilacera a pele negra
Catarses repetidas
Farrapos humanos
*
“R”
Reabjurar Racismo
Ranço Repugnante
Repudiar Rabaz
Repressor Ridículo
Renunciar Regalias
Rastilho Rancor
Renegar Rebenque
Raciocínio Raso
Rebater Reacionário
Raça Recachada
Recusar Retrógrado
Representação Racista
Riscar Rapto
Rapinagem Réproba
Ruir Retenção
Recortar Reclusão
Restringir Recriminação
Recriminar Racialização
Recalcitrar ”Rabo-de-arraia”
Reflorescer Religar-Orixás
Reverberar ”Ruídos Resistência”
Reverenciar Retinto Raro
Resguardar Reminiscência Reescrita
Reapoderar Retumbante Realeza
Rejubilar Reaquilombar Resplandecente
Resistir Ramificações Requintadas
Reafirmar Rotina Realizadora
Realçar Relações Respeitosas
Referendar Reeducar Ressignificado
Realegrar Resiliência Rearticulada
Rizoma Raça Retinta
*
Cadê tu, Catarina?
Pele reluz Lumes
O sorriso acalma a Alma
Ilumina passos apressados
Vassoura navega na Catedral
Mãos alisam a toalha do Altar
Pano ata os crespos cabelos
Cativa pela Simplicidade
Vibra a Pureza Cristalina
Encera e lustra lide rotineira
Ajoelha ante o Sacrário recolhe Bençãos
Cantando limpa o espaço Sagrado
Na paz esquece o esforço físico
Solitária doa ectoplasma
Translada as Esferas Celestiais
Divina faxina de Amor
Luz de Almas transviadas
Socorre os que ali adentram
Evangeliza e Batiza
Sentia tudo como imaginação
Vivia Sonho silencioso
Cotidiana Missão
Sagrada Doação