Quatro poemas de Ingrid Limaverde
Ingrid Limaverde, 26 anos sob o sol de Salvador-BA, poeta, pesquisadora dos caminhos e desvios da escrita literária, professora, finalizando uma graduação em Letras Vernáculas pela Universidade Federal da Bahia. Tem poemas publicados em revistas eletrônicas e nas antologias O amor nos tempos de lonjura (2020) e Antologia de novos poetas: No princípio era o verso (2020).
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DESREPRESAMENTO DE UM AFETO OU TEORIA DA CATARSE
Maura Lopes Cançado subiu em cima de uma pedra
completamente nua
apaixonada pela correnteza
Minha vó materna apanhou peixes
no fundo do rio num passeio
com os 9 filhos
ao chamado riacho de areia
Minha avó paterna
bordou as roupas que usava
enfeitou coisas que viu pela casa
e nunca guardou uma opinião,
um conselho, sua sabedoria
Stela do Patrocínio inventou com a boca
um falatório
poesia inabalável, desmoronada de nascença
impossível aos que se acham poetas
Catarina arrancou as petálas da flor amarela
amassou e engoliu
Joana foi vista dentro da poça de lama
fingindo nadar
emitindo sons irrecuperáveis
Minha mãe canta alto com seus alunos
músicas engraçadas
nas aulas online
e parece se divertir tanto quanto eles
ou mais
Aos 19 anos fui cúmplice
de um arrombamento
quando eu e minha namorada
precisávamos de
um lugar para sermos
namoradas
(a casa era dela mas continuávamos criminosas)
Ouça o que digo:
insistirá, a partir de ___
em perdoar o próprio corpo
*
PAREI DE CONTAR QUANTOS MESES FALTAM
Queria saber se
a cidade acontece sem a gente
Se alguma espécie animal
nunca antes vista
aproveitou o silêncio coletivo do mundo
e saiu de seu esconderijo secular
Melhor
será que nós duas
ainda estamos presas
em algum bar do centro?
vivendo o bom tempo
sem pensar nenhum futuro
ou
a cidade não se lembra dos seus dedos
segurando o copo
do embaraço de nossas vozes
dentro de outras vozes?
Apoio o pé esquerdo na coxa direita
olhando fixamente
para uma das quinas da cozinha
acho um ponto de equilíbrio
e mordo metade da banana
Sei lá né
tudo anda tão esquisito…
*
USO TELELUPA?
Se você olhar um pouco mais de perto
aqui
sim, nesses espaços fundos
notará que escorre
um líquido espesso meio transparente
meio turvo
de cheiro curioso, no entanto inominável
se conseguir enxergar
estará ele caindo, vagarosamente
num tempo de ninguém
acompanhando cada letra em seu formato
nada impede que caia
nem a rigidez do t
isso!
é só apurar as vistas, não dá tanto trabalho
veja algo vazar por aqui
ali
perene
*
UM POEMA ROUBADO DE ANA MARTINS MARQUES
Eu queria exceder a palavra
mas ela é tudo o que tenho
Sama
Ingrid é um presente Ao universo