Quatro poemas de Janete Manacá
Janete Manacá é atriz, escritora e poetisa, autora dos livros: Deusas Aladas, A Última Valsa e Quando a Vida Renasce do Caos. Participou também da Coletânea Sete Feminino de Luas e Marés com 30 mulheres brasileiras. Autora da coluna mensal “Olhares sobre a cidade” da Revista Centro Oeste de 2016 a 2017. Autora dos Projetos: Sala Zen, Bate Papo Zen, Tempo de Amar e Parto poético, na Gerência-Executiva do INSS em Cuiabá/MT de 2005 a 2011. Atualmente é integrante do Coletivo Literário Maria Taquara – Mulherio das Letras/MT e do site Parágrafo Cerrado. É bacharel em Serviço Social, Comunicação Social e Filosofia, com especialização em semiótica da cultural pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Os poemas abaixo foram retirados do livro Sinfonia do Entardecer, a ser lançado no dia 04 de setembro no SESC Arsenal, em Cuiabá.
Sinfonias do Entardecer conta com 7 abordagens poéticas: Sagrados momentos, Sublimes sentimentos, Desejos resplandecentes, Memórias vivas, Noite escura, Passagem do tempo e Enfim plenitude. A capa e ilustrações são de Elis Souza Rockenbach, e o prefácio é da arquiteta e urbanista Doriane Azevedo. O livro retrata retalhos de memórias guardados no percurso da existência da autora Janete Manacá, do alvorecer ao entardecer. Com esses retalhos poéticos, cada pessoa é convidada a refazer a trajetória e tecer a sua própria travessia.
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Memórias
Hoje quebrou-se o frasco de perfume
Que guardei quando o nosso amor acabou
Com o tempo evaporou-se um pouco da fragrância
Mesmo assim o cheiro de memória espalhou-se pelo ar
Era manhã de inverno, impossível não relembrar
O seu último olhar que fez meu peito sangrar
Quantos anos já se passaram
E as brasas que acreditei terem virado cinzas
Estão vivas e acesas em minh’alma a queimar
Era apenas um frasco de perfume
Mas um símbolo vivo da eternidade esvaída
De tantas juras, beijos e promessas não cumpridas
O poema que fiz pra você ainda está na gaveta
Tanto tempo se passou, eu já tinha me esquecido
Mas um simples acidente me fez relembrar
Os cacos foram lançados ao lixo
Mas a dor não tem como descartar
É mais uma cicatriz para se colecionar
Um passado fragmentado não merece ser lembrado
Minha face perdeu o viço e já não há fórmula nem feitiço
Que traga de volta o frescor e o tempo perdido
*
Passado
É tarde da noite e o relógio acelerado
Registra tudo inclusive a dor do passado
Evasivo e indiferente, não pede licença
A luz do candelabro ilumina recordações
Num palco tétrico de desilusão
E o diálogo se arrasta além da solidão
As cortinas continuam abertas
A uma plateia de fantasmas sem rosto
Num tempo de sombria aflição
A trilha sonora marcada pela respiração
E a rigidez de um relógio sem direção
Misturam o ontem e o agora em confusão
E nesse delírio a trama se despe
E exposta à melancólica memória
Dilacera meu ser por inteiro
E no auge do delírio ouso ser atrevida
Dispo-me da pele que me habita
E num grito sinto a vida renascer florida
*
Sinfonias do entardecer
O agora escorre pelos dedos
O ontem já se faz eternidade
E todos os sonhos têm pressa
Como vencer os ponteiros do relógio
Que furiosos seguem irracionais
Sem saberem aonde chegar
Mal o sol surgiu e já partiu
Uma sensação de impotência me invade
Lânguida, me deito sobre os brancos lençóis
Há em tudo uma velocidade imensurável
Um desespero urgente e sem destino
Nessa trilha infinita chamada estrada
Mas há em mim um coração sofrido e resistente
Que na maturidade se abastece de pôr do sol
Para celebra com amor as sinfonias do entardecer
*
Senhora de indecifrável azul
Senhora de intraduzível beleza
Saúdo-a sob a força da lua cheia
E bailo contigo sobre as ondas do mar
Permita que sejam abundantes
As águas do meu mar interior
E que eu possa navegar com serenidade
Senhora de indecifrável azul
Revigora meus dias nesta terra
E ilumina as estradas da minha existência
E se algum dia de tristeza eu chorar
Toma-me no colo, lava-me de todo o mal
E fortalece o desejo de eternamente te amar
Senhora de múltiplas e iluminadas faces
Quando o fim da minha vida chegar
Que seja a luz dos seus olhos a me iluminar
Que as águas do meu corpo possam se misturar
À multidão infinita do seu celeste e reluzente mar
E após a travessia quero ao seu lado repousar
Carmen Lúcia da Cunha Moraes
Ler jAnete manacá…
Sentir janete manacá…
Com toda ternura e excitação prazeirosa à vida, é acariciar a alma poética sem necessidade de rimas ou métricas.Ela nos envolve com seu carisma e seus poemas nos agregam como colonizadores de poesias em todas as estações.Bravíssimo, querida poetisa amiga-irmã!Deus a abençoe!