Quatro poemas de Maiky da Silva
Maiky da Silva nasceu em Cansanção, 1996. É estudante de Letras na Universidade Estadual de Feira de Santana, cidade na qual atualmente reside. Já publicou livros de forma independente e em 2019 será lançado Ave, Eva! Ecce Homo pela Editora Urutau. Os poemas a seguir são inéditos, soltos e de hoje.
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saiba que ester assina ster
não aceita o e porque
não se aceita caber em
minha carícia não alcança
o teu tato que me espanta
se eu te alcançar me desvaneço
como também a folha seca
já deteriorando de whitman
a que ninguém quer admitir
mas que ela me contou rindo
desdenha de quem quer
com seus olhos carnudos
com mais carnes do que tudo do
que tem seu corpo inteiro
seu corpo de vento maduro
ali, está ali, onde não mais
a ventania que me arrasta está
ester assine, assine ester
ela assina ster como quer e
como um santo anseia a auréola
eu anseio o teu assédio o teu
repentino assédio de serpente ligeira
correndo vento entre a relva ressurreta
*
tudo é uma bestice que passa ligeiro demais
ou parece que nunca mais vai passar
e é por isso
e é só por isso, que você tem,
meu amigo, você tem que
ressuscitar hoje de novo
eu aqui quase em outra dimensão
não posso alcançar tua mão
ou bater em teu ombro
ou beijar o teu rosto
mas eu e você somos besteiras também
ressuscitaremos para morrermos para
loop infinito
que cansa morrer eu sei
eu sei
bestice da gota, diria sei lá, um tio meu
eu repito porque é, uma bestice da gota
intercalemos nossos dias de morte
vamos brincar de Lázaro,
tipo o poema da Plath
boys don’t cry toca nesse país vendido
e a fun das girlssssss
eu cantando e você aí chorando
é uma bestice da gota mesmo
mas me coloque como um “mas”
um “mas” que vai doer, sei
e me sei egoísta, sei
mas é que, sei lá, não sei
boys dizem “mas” para continuar
girls dizem “mas” para continuar
uns pelos outros
loop infinito
ô mano, ô mana, don’t cry
vamos brincar de Lázaro
como quem planteia uma guerra
*
o pé no balde porque o passado
encravou na unha de novo
e a receita é vinagre e sal
e água morna quase quente
é abril, greve, mãe doente,
e é mesmo um mês duro
n eh mole não kkkk
a ladainha eterna desses
humaninhos-formiguinhas
mas é que a folha anda
tão pesada, uns dizem
é que nem folha tem
pra levar, outros dizem
quem manda nas formigas
faz com que
a folha ande pelas formigas
e só resta o cansaço do nada
do tédio da ânsia do
eu canso disso enquanto
a água esfria e o passado
esquenta no hoje e hoje
é o já passado encravado
de novo de novo não tem
água que melhore vinagre
ou sal e nem é culpa de abril
o dedo com sangue e pus
*
são tantas direções que é mais fácil
se encontrar perdido e há quem
assine o contrato sem ler
e de repente lá está você no
sei lá eu onde
e sei lá, você diz, eu sei lá onde
placas não indicam necessariamente o caminho
apenas indicam ordens acerca de um caminho
é bom lembrar disso
e é bom também saber que se exilar dentro
é também ir tão longe, mas tão distante
que talvez seja impossível voltar
rasga então tua assinatura de adeus
enquanto ainda consegues ver teu rosto
Maria Ferreira da Conceição
oS VERSOS DE MAIKY ME TOCAM DE UMA FORMA PROFUNDA E AO MESMO TEMPO LEVE, SÃO DESSES QUE CAUSAM ARREPIOS À PELE E UM PULSAR DIFERENTE AO CORAÇÃO. SÃO LINDOS.