Quatro poemas de Maria Amélia Elói
Maria Amélia Elói nasceu em 1973 em Taguatinga, DF. Jornalista e mestre em Teoria da Literatura pela Universidade de Brasília, foi premiada em 2009 no III Concurso Literatura para Todos, do Ministério da Educação, com a obra Poesia Torta. Em 2001, ganhou o Prêmio Nestlé/MEC pelo ensaio Idéias a Mais!: a crítica literária no JB e na Folha de S. Paulo no ano 2000. É servidora da Câmara dos Deputados, onde se dedica a projetos culturais. Em 2016, publicou o livro de crônicas Um milagre para cada corcova, pela Editora Penalux. Em 2017, participou da antologia de contos Novena para pecar em paz, também pela Editora Penalux, entre outras coletâneas. Participa do coletivo Mulherio das Letras.
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Fórceps
Ou de cesárea
pau-de-arara
à força bruta,
este poema tem de nascer
Naturalmente,
só a cecília,
bandeira, espanca,
carpinejar
Naturalmente
só o cheiro do sol
e o som dos barros
do manoel
*
Intransitiva
Tomei cisma dos transitivos
sanguessugas
preguiçosos
Vivam apenas os verbos grávidos
que carregam em si
a completude
ou o desejo dela
A vida assim está
plena, fértil:
O cidadão
nasceu
caminhou
pariu
desmaiou
morreu
Simples assim,
como a ressurreição
acontece
*
Recursos
Leite potável não tenho
pra abastecer o mundo
Aceita-me as palavras?
Prometo tratá-las
em pó de arco-íris
Prometo gravá-las
em potes de seda
Prometo não serem
nem arma nem voto
Aceita-me as palavras?
Prometo
manter-lhes levíssimas asas
manter-nos irmãos
pela mesma sede
*
Drão
Lê, lê:
larva grita
sã palavra.
Vê, vê:
lacre abre
cresce grão.
Prends, prends:
écriture
à critiquer.
Crê, crê:
quebra obra
é criação!