Quatro poemas de Miguel Nassif
Miguel Nassif (São Paulo, 1994) é pintor.
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Cambury
Onde foram parar
aquelas ferramentas de metal
liliputianas
Vinham, se não me engano
com o sorvete
no fim do século no litoral norte
*
O macaquinho play-by-play
chinês
trinta centímetros de altura por vinte e cinco crucificado
prêmio máximo num estande de tiro
na Normandia
tem olhos de plástico
ele é vermelho
e amarelo no focinho e na barriga
A boca escancarada de açúcar refinado
destoava bastante
à época
dos brinquedos sem olhos
e boca e nariz
de lã boa
de açúcar mascavo
de gestos contidos
quase calvinistas
Mas nenhum anão de coletinho fúcsia
e barba branca
teve lugar tão destacado
na hierarquia dos bichos de pelúcia
e feltro e flanela
Era o único, se não me engano
que não era posto de lado
na hora de dormir
*
As pinças leitosas dos caranguejos
não são tenazes de ouro
mas são seis pinças leitosas
balançando, em tempo morto
na linha ocre e ondulada
da costa do mar do Japão
*
Uma varanda no mar do norte
A varanda do apartamento
era o passadiço
escorregadio e gelado
de um navio mercante mas
já há algumas semanas voltou
o pio ininterrupto dos passarinhos
e ninguém mais dorme