Quatro poemas de Pedro Moreira
Pedro Moreira nasceu em 1995, na cidade de Itaí, São Paulo. Atualmente vive em Rio Grande (RS) onde estuda Letras na Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Escreve poesia, conto e crônica. Seu primeiro livro, Embora o mundo tivesse cor (2015), é de contos. Seu segundo livro é de poemas, Oitenta e três idades (2016). Ambos os livros publicados sob o pseudônimo Gustavo Guza.
***
janela de vidro
a luz branca penetra
a simplória janela
e desconforta meus olhos
ao mirá-la nada vejo
escuto a buzina
a conversa o latido
não se ouve o canto
de pássaros nem o
vento nas folhas
não se percebe os insetos
que tipo de floresta
há no meio de tanto concreto?
*
a terça parte do tédio
toda terça-feira é nublada
embora o sol insista em aparecer
toda terça-feira exige chuva forte
e filme ruim na televisão
toda terça-feira nem estamos cansados
e ainda não há esperança do fim de semana
tão distante de nós
toda terça-feira é prosaica e sem graça
– um dia que não existo.
*
suéter
aquele suéter
marrom-mostarda-vermelho
que ganhei no natal
de um mil novecentos e algo
ainda habita empoeirado
na parte superior do armário
não tão esquecido como gostaria
ele me lembra como
costumávamos dançar
mesmo sem música ou motivo
numa noite em que
o frio ditava as regras
ele ainda está lá
decantado num canto de memória
que não se deve julgar
como um sentimentozinho
irremediável que
ainda se remexe no fundo
na vida minha
nunca serei capaz de
botar essa velha caixa
marrom pra fora da casa
essa mesma que um dia
você habitou.
*
ideia de exílio
no meio da rua ontem
entre um lado e outro
me bateu uma vontade
de ir para o méxico em fuga
de busão daqueles anos
em que se ouvia you are
my sunshine e se usava
calças largas
desejei um país
inteiro de liberdade
e frustração – lugar de
fronteiras baixas trincheiras
de uma guerra que
não se pode enxergar
desejaria o brasil
se aqui não fosse tão
gigante que nem conta o hino
no meio da rua – quase
atropelado – abandonei
a ideia de exílio.