Quatro poemas de Serena Franco
Serena Franco nasceu em Brasília e tem 18 anos. É desenhista (retratista), faz pinturas a óleo e grafita. Gosta intensamente de Arte, mas a literatura sempre foi sua paixão, sendo desde criança uma leitora compulsiva (e acumuladora de livros frenética). O mundo também é uma de suas paixões e o tem conhecido viajando com os seus pais. Coloca toda essa confusão de sentimentos e percepções que acumula em sua escrita, desejando ardentemente se tornar escritora um dia.
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Os portões do Bom Deus
Uma reza não bastaria
Seria necessário missa solene
& Ladainha & infinitas novenas
& toda a Milícia Celeste &
Uma legião angelical cantando
e rogando de joelhos
para convencer o Bom Deus
a destrancar as portas para nós
Poetas irreparáveis – arruando entre Terra e Inferno dessa cidade
Fiquei sabendo que morro amanhã
Já pus comida pro gato, apaguei a luminária
já tenho bagagem feita
(O nó na gravata, a gravata no pescoço)
Lúcifer já me lambe os dedos engordurados
Me rói os ossos das costelas – os 12 pares – até os tutanos
Já vou embora, apago a lamparina
Ajeito a estante. Eu me vou já
a perseguir cata-ventos ou moinhos de vento
numa outra alvorada, numa outra maré, numa outra qualquer em que vier dar
Os turistas levam embora todas as conchas, os
mexilhões ficam sem casa
– apago a TV
fecho as janelas, as cortinas e começo a andar
pensando nessas desimportâncias
E conto meus passos me perguntando como é estar morta e rezando e rezando
para que quando chegar minha hora
o Bom Deus me venha abrir a porta
*
Epopeia de inseto
Observo a mim mesma
sentada nessa mesa
há tempo demais
com o copo vazio demais
o sono grande demais
esperando não sei o que.
Talvez o fim da guerra na Síria
ou do expansionismo norte-americano
ou da obesidade infantil
ou das franquias internacionais
de fast food.
Enquanto isso vejo moscas
no fundo do meu copo
se debatendo por suas vidas
em sua própria e minúscula epopeia
que já dura anos
(das suas curtas vidas de 28 dias de mosca).
E eu aqui sentada nessa mesa
há tempo demais
com sono demais
observo essa história épica
(trágica demais)
que afunda
e desaparece
no fundo do meu copo
enquanto eu espero
não sei o que.
*
Colecionador de ausências
Vem e me diz que não vai mais partir para sempre
Não por enquanto, pelo menos
Um espanto! – numa quase completa felicidade franzo
o sobrolho équetodosqueeuamovãosempreembora
Uma vez me disseram que quem ama permanece
Não é verdade
Será que nos reencontraremos um dia? – A pergunta é a
única que fica
Com mangas amarelas e os braços cruzados no peito
tento o esboço do sorriso
também amarelo – cruzados todos os dentes e a língua
Não é nada fácil fingir felicidade – O buraco é bem
mais embaixo
e embaixo
e embaixo
Até que você cai nele.
Assim como se cai em uma piada
Vem e diz que não vai mais partir para sempre
“Por favor” – Eu peço
A Romantic Rock Song começa a tocar ao fundo
“With or Without you” – Reconheço
Mas o romantismo é sempre superestimado
Meu coração
Eterno colecionador de ausências
Uma a mais
Uma a menos
Será que noto a diferença?
*
Repertório mudo
A luz inábil para distinguir o detalhe das coisas
O disco que já toca pela terceira ou quarta vez
O quarto insuficientemente airado
Do outro lado é dito alguma coisa grande demais para
atravessar as frestas da porta – Entram apenas balbucios.
Dos sons quase inaudíveis se compõe um repertório
Eu gosto tanto quando você fala meu nome
Então eu s-o-l-e-t-r-o
Dando ênfase em cada sílaba
Mas brasiliense não tem sotaque – É o que pensa.
Os sons incompreensíveis vão tomando formato
Um ranger de dobradiças
Um miado de gato
Um choro humano
De todos os moradores da casa o filho mais novo
é o mais amado – se é que existe medida
O pai bebe cerveja artesanal na varanda – relembrando
o passado
A mãe reza o rosário no quarto – acompanhada do rádio
No último cômodo a filha mais velha escreve algo – não
muito importante
É domingo à noite e das queixas não ditas em voz alta
se forma um repertório
A pressão sobre a casa é de 1000 atmosferas
Não sei quantos milímetros de mercúrio
Se é que existe medida
Ivy MENON
Caracas, hein? Poetaça!!!
Marcelo Franco
Muito bom. Parabéns.
Marcelo Franco
Muito Legal. Bom d+.
Allice fRomEr
POETISAAAA QUE VAI LONGEEE !!!!✨👏👏👏
TALENTO NATOOO DA SERENA💗 amo muchooo! Voaaa🌞
Luciana Assuncao
Belissimos versos serena. Como sempre trabsparecendo todo o seu talento, que esta somente desabrochando.