Quatro poemas de Valeska Torres
Valeska Torres é poeta. Nasceu no Rio de Janeiro, Marechal Hermes em 1996. Mora em Brás de Pina. Publicou nas coletâneas de poemas, contos e crônicas “Do rio ao mar” [Turista Aprendiz, 2015], na antologia “Seis temas à procura de um poema” [Flup, 2017], na antologia “Alma – Projeto Identidade” [Editora Conexão 7, 2018]. Publicou poemas em diversas revistas digitais e também, tem fanzines publicados no Brasil, Argentina e Paraguai, por diferentes editoras locais. Foi a única brasileira selecionada para a residência no Festival Internacional de Poesia de Rosário, Argentina. Em breve, lançará seu livro “O coice da égua”.
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EM UMA GALÁXIA TÃO TÃO DISTANTE …
há anos luz ☄
criou-se um buraco
negro tão preto e profundo
que é
confundido
com a
desova
lá do
morro
que
cava
m
mais uma cova mais uma cova mais uma cova mais uma cova mais uma
cova
de um vagabundo.
MIJADA
a rolha explode contra a minha testa
de calcinha bege clara mijo escorre entre as minhas
pernas o liquido amarelo metálico: uma mulher suja.
nas tentativas em segredo, enfio os meus dedos
entre a goela quando eu,
enfiaria entre os lábios da minha buceta se me fosse permitido
gozar, se me fosse permitido …………………………..
uma penca de banana com
granola, arrebenta
o zíper da minha calça quando devoro uma penca de banana com granola,
comendo banana (baixinho para que ninguém ouça minha língua empapada de saliva)
tenho vergonha de ser uma mulher suja e que gosta de comer bananas pelos
cantos mastigando baixinho fazendo papa debaixo da língua
não quero que ninguém me veja
que ninguém me ouça
comendo na poltrona puída do caxias x méier
nem que me perguntem porque mijo nas calças quando uma rolha explode contra a minha testa
não quero que vejam meus pêlos debaixo do sovaco que
raspo todososdiastodososdias
raspo os pelos dos meus
sovacos sem nenhum rito
sem nenhuma falha
limpo os pelos feios e sujos da mulher suja que sou.
NO ESTREITAR DAS TARDES
em movimento curvilíneo, agarravam-se as rédeas: homens, de carapuças brancas
no estreitar das tardes
bicavam com os pés pontiagudos o asfalto até que do ralo descesse o rubro
tambores graves vinham de outros quarteirões e a novena escapava pelo fio de nylon; cada miçanga era bijuteria velha.
os pescoços enlaçados pelo tronco de madeira
no estreitar das tardes,
a celebração de uma nova ordem.
cá fora no horizonte: o sol extrapolado feito gema de ovo. em contraste, o avesso de mim.
no estreitar das tardes,
quem anda comigo é a minha sombra que se esgueira entre o poste o emaranhado dos fios
um delírio
REBANHO
Seis horas da tarde,
uma porca indo pro abate, uma multidão de porcos.
Uniforme: cinza e azul, bandeira do Brasil, unidade pública de
ensino. Uma porca bem vestida.
Sistema público de ensino e um bando de porcos
pretos tentando aprender
que Jesus tem olhos azuis
é branquelo,
um bronze tem que passar pasta d’água.
Sistema público de ensino de que adianta saber
contar, se no fim do mês não sobra nada
para a porca que trabalha para pagar boletos? Sustentar um lar?
Fim de um dia de trabalho, início de
uma noite de pasto a barriga no fogão
uma espingarda com cano ainda
quente meto a bala na cara do
canalha
faço jus ao meu salário.