Quatro poemas de Viviane Moreira
Viviane Moreira escreve, há um tempo, crônicas e poemas publicados em blogs e sites.
Advogada, mora em Belo Horizonte.
O poema O QUARTZO BRANCO foi publicado no livro Jurema (Org. de Carina Gonçalves. Impressões de Minas Editora. Selo Leme, 2019), obra coletiva com contos e poemas sobre o cotidiano.
Blogs e site:
Balaio da Vivi – Direito, comportamento etc.
Videbloguinho – Literatura
Viviane C. Moreira – Revista Amálgama
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um dia
um dia qualquer
um dia no horizonte escuro das horas
do seu jeito sensato e fiel de ver as coisas
um dia distante de seus devaneios em p&b
e fora dos seus ternos abrigos vazios
um dia inteiro de espera
serpenteada pelo canto de um sabiá-laranjeira
um dia de nuvens ásperas de saudade
dentro do som da algazarra das crianças
um dia com a manhã inundada
pelo cheiro de café que até hoje nada lhe diz
um dia de festim diabólico
no seu ritual solidário ao que você não é
um dia quase rubi
lapidado por um fio agridoce da memória
um dia
um dia alegre de vento sul
debaixo da sua pele fina de ermitão blasé
o trágico menino selvagem
entre o riso da agonia
e o suspiro da esperança
vai te tirar para dançar
no silêncio da última gota de chuva ácida
*
VERMELHO E VERDE
o lusco-fusco na minha retina
o seu desprezo – não por mim
eu sei – agressiva fico às vezes
e sim pelo que sei minha santa francesa
adolescente fechava o tempo também e
mulher que não feche o tempo não sei
se há, meu bem,
mas sei que da minha ousadia polida você
finge que gosta dos meus silêncios estridentes você
foge dos meus errinhos tristes você
ri e ri eu sei sua coragem não vem dos meus medos
(e o seu gestual ensaiado e o seu bom
senso de todas as horas? nem ligo)
ah, meu bem,
e se pudéssemos estar um com o outro
descobertos
dançaríamos um tango?
1- 2- 3- 4- 5…
acomodação…
6- 7- 8
numa noite tola de horas tortas
se pudéssemos, na nossa nudez
desabrigada
ainda
*
O QUARTZO BRANCO
com restos de terra a pedra
descoberta na calçada
escorregadia onde
você e eu
na comediazinha
das nossas touradas
não aprendemos o encanto
dos passos com a morte
nem ousamos atravessar o sorriso
terno do nosso espectro
e olhar para os mortos
que não amamos
os mortos
da cidade escolhida
pelos nossos
pés
*
FORROZINHO
dans le noir dance
o dia mon amour