Quatro poemas de William Duarte
William Duarte é natural de Cuiabá, Mato Grosso. O autor possui diversos textos publicados em periódicos literários de circulação interna na Universidade Federal de Mato Grosso, como os periódicos “Caletrandos” e “Céu de Ícaro”. Em 2004 passou a ser colaborador permanente do conceituado webzine Senhor F, onde escrevia sobre rock dos anos 60. Em 2005 foi 3º colocado no Concurso de Poesia da Livraria Adeptus de Cuiabá.
***
Vermes!
Agora que estás morto no caixão,
Passeiam sobre ti milhões de germes;
E em teu corpo o que eu vejo agora, então?
Vermes!
Microorganismos matam sua fome
Comendo as tuas carnes tão inermes;
Sei qual é o fator que te consome:
Vermes! Vermes!!
Apodreces, e tua alma se vai junto
Na terra, com as roxas epidermes;
Eis os bichos que comem teu defunto:
Vermes! Vermes!! Vermes!!!
*
Dois cadáveres sob o sol ardente
Minha querida, é muito bom revê-la
Depois de muito tempo ter passado;
É um quase surrealismo surpreende-la
Deitada neste campo desolado;
`Inda sinto brilhar a tua estrela,
Embora em tudo tenhas transformado.
Pois a aparência que tu tens agora
Em nada se parece co’a de outrora.
Teus olhos tão tranqüilos e serenos
Mostravam a tua alma em si contida
E agora estão cerrados, sem ao menos
Mostrar um único sinal de vida;
A tua pele e o teu corpo, outrora plenos,
Se encontram de uma forma ressequida.
É muito triste a minha hostil visão:
Em ti vejo brotar a podridão.
Antigamente andavas perfumada
E agora estás tão podre, estás fedendo…
Tua boca está muda, tão calada…
Vejo um verme teus lábios carcomendo;
Teu cadáver na terra desolada
Tão estático vai apodrecendo.
A vida para ti fechou a porta
Agora que estás podre, que estás morta.
Mas, querida, eu não quero, eu não aceito
Ver teu corpo deitado nesta terra;
Pego uma faca e encravo no meu peito
Para que o sangue que o meu corpo encerra
Devolva a ti a vida neste leito
E tire-a deste estado que me aterra.
Mas não adiantou… Tu não viveu…
E o meu cadáver tomba sobre o teu!
Querida, estamos mortos, finalmente…
Ninguém suportará nossos fedores!
Nossos restos mortais, mui lentamente,
Fecundarão a terra sem mais dores
E nós adubaremos, francamente,
As mais vistosas e serenas flores.
Ressurgirá a vida no arrebol
De dois defuntos podres sob o sol.
*
Os teus pálidos olhos de defunto
Eu olhei a manchete do jornal:
“A polícia encontrou mais um presunto!”
Reparei no detalhe principal:
Os teus pálidos olhos de defunto.
A foto mostra um corpo em pleno chão.
“Do que foi que morreste?” – Eu me pergunto.
Resultado da decomposição:
Os teus pálidos olhos de defunto!
O teu cadáver vai deteriorando
E os teus olhos também se estragam junto;
E, surpreso, eu prossigo contemplando
Os teus pálidos olhos de defunto…
*
Cabeças degoladas
Estava caminhando pela praia,
Pisando firme as plácidas areias;
Meu coração, então, quase desmaia
Ao relembrar aquelas cenas feias.
Senti uma emoção muito sombria
Vendo as areias tão ensangüentadas.
Descobri a razão dessa sangria:
Milhares de cabeças degoladas!
Lâminas assassinas laceraram
Pescoços tenros em macabras danças;
Assassinos cruéis decapitaram
Homens, mulheres, velhos e crianças.
Mas, oh, que horror, que horror, que horror agudo
Olhar seres humanos degolados;
E o que mais me assustava nisso tudo:
Os seus olhares tão petrificados.
Cruéis facões, sangrentas guilhotinas
Cortaram os pescoços indefesos;
Carnificina das carnificinas
Provocada por ódios tão acesos…
E o Destino me disse: “Não te esqueças
De se lembrar dos rostos das cabeças!”