Quatro prosas poéticas de Felipe de Paula
Felipe de Paula é Graduando em Letras – Português/Literaturas de Língua Portuguesa, pela UFRJ. E muitas outras coisas mais que não cabem em uma descrição. Homem verde, transexual. Pinguim
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1
era para ser um artigo, de fato. eu, com todo meu corpinho gordo. jesus, maria, joana, esse poemão está me custando algumas gotas. eu, com todo meu corpinho gordo pensei que pudesse catar esses três meninos, amarrar com barbante, dar três voltas com fita crepe, embrulhar para presente, e fazer um só. o primeiro, que é de lata, mas não esteve em o mágico de oz. falando nisso, não gosto de pensar em o mágico de oz, por uma e outra lembrança, nem sei o motivo de o trazer até a quinta; deixo aqui minha nota de repúdio. lembro de eu menino, risos, é engraçado falar “eu menino”. alguma coisa sobre um homem com nome de cobra e outro com nome de piupiu, que achavam que no dia de hoje alguém, se é que posso chamar de alguém, estaria escrevendo isso para mim de dentro de uma espaçonave, melhor, de dentro de uma espaçonave, depois de decodificar tudo o que se passa aqui na minha cabeça de abacate, sem que eu dissesse uma palavra, não, eu diria um, dois, três e já. texto pronto, texto publicado, para falar do segundo, que é de madeira. e do mesmo jeitinho do anterior, é, eu não mencionei, mas, do mesmo jeito do anterior, rezava todos os dias para a santa do vestido azul. por sua vez, a santa do vestido azul nos leva ao terceiro, que, mesmo de carne e osso, tem medo e tem cheiro de terra. faz chuva, hoje o céu está tão misterioso. com sua licença, professora, e se eu não estiver inventado isso, e se não eu estiver só costurando com formiga um no outro, e no outro, e se eu não estiver, estiver, depois dos vinte e oito
2
descobri esses dias de onde eu vim. de onde toda a gente se autonomia mais matável, alguns menos. terrra baixada. terra de gente baixada. sirenes, o latido do cachorro-do-mato. um candango pegou um livreto daqueles, que você diz uma coisa querendo dizer outra, e normalmente fala de bicho, mulheres em pânico; homens também. um candango sentou ali na linha do trem, e espero. ninguém sabe pelo quê ou por quem. nunca mais vimos o candango
3
uma caixa de sapato. uma menor dentro, uma menor dentro, uma menor dentro. li esses dias sobre um besouro que crescia e tanto, que ficava maior do que o quarto da menininha. se a minha criança ler, vai dizer que eu estou fantasiando uma coisa aqui e outra ali, só para falar que eu não caibo nos limites desse quarto. alguém grita o meu nome. morto, morro. para falar sobre uma espécie de monstro de comer gente com bala de uva verde, massa de pão e queijo brie
4
uma vez, quando eu era uma pessoa anã, uma professora, para me castigar, me colocou de pé e olhando para a parede, eu nunca entendi. eu nunca entendi, na verdade, os castigos, mesmo que tenha sido uma ou duas vezes. tudo bem, admitimos, foram cinco. no entanto, hoje, eu, pessoa agigantada, passo dias e dias olhando para a parede branco-amarelada do espaço, e não lembro de nenhuma contravenção. e não lembro de muitas outras coisas, vai ver é por isso que repito tanto as palavras, para não esquecer, vai ver foi um jeito que arrumei de tornar as coisas mais lentas. as unhas do asterix vezes as unhas do obelix, uma gota de piche. eu tinha uma amiga, e essa amiga tinha um plano. um plano infalível, ela dizia para mim. amar a maior quantidade de criaturas humanas e não humanas, um enxame inteirinho, que ela conseguisse, porque se. vou parar aqui rápido, rápido mesmo, para falar sobre a competição de se, de inconveniências, para que a gente ficasse sem se mexer; há quem diga que eram desculpas. desculpa, mais uma vez, porque se o acaso distanciasse ela e esses tantos, ela ia ter o que no que pensar. comigo, isso não funciona é nada, é nada pois eu sempre tinha e tenho no que pensar. ela dizia que era porque eu amava de menos, eu já acho que é porque eu sempre amei demais