Sala de espera (com versão em canção)
Trecho de poema musicado.
Interprete: Theodora Charbel
Música: Felippy Damian
Letra: Ângela Coradini
Leia abaixo o poema na íntegra.
*
Sala de espera
e tem cansado de esconder-se
em espaços que pouco a pouco ficam vazios naquela sala
demorada sala de espera
onde definham certezas empoladas
a janela da sala emoldura um quadro vivo e quente,
o oposto ao fundo onde se finca, ela, a angústia em vida
entre a janela e o fundo, um espaço,
onde pairam e cantam os desenhos de nanquim das paredes,
com seus solos de achismos, quedas em sequência
e mentiras ritmadas
de manhã brotam vácuos cheios do que,
embebido em lágrimas,
foi despejado no chão durante a noite
é nesse crepúsculo
que os desenhos de nanquim despregam-se das paredes
e povoam o espaço turvo da sala
na noite os ecos das cores que um dia foram
tentam escapar do fosso, do breu em queda livre,
…um momento estagnado
o sono nesta sala não dorme, o coração nesta sala não descansa,
tempo nesta sala fica, o pensamento nesta sala é só tormento
a sala de espera não precisa de correntes,
seus enlaces não são metais frios,
mas desenhos e cantos viscosos e desencorajantes que aprisionam,
resquícios do que nunca chegaram de ser
a sala de espera só quer desintoxicar,
desencher, desimpregnar até que não seja,
só não seja mais, e então
reste só o nanquim, sem antes, mais uma vez.