Seis poemas de Caio Augusto Ribeiro
Caio Augusto Ribeiro é um artista e escritor brasileiro residente em Cuiabá/MT. Publicou os livros Colecionador de Tempestades (Carlini&Caniato, 2017) e Manifesto da Manifesta (Carlini&Caniato, 2018). É editor e fundador da revista digital Matapacos e membro fundador do Coletivo Coma A Fronteira, no qual investiga artes híbridas e intervenções urbanas.
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][
prezar
por
descapturar o
instante
e destituir
da dinastia do agora
suas matérias mais simbólicas.
o poema
como moldura
a estrutura
o sustento
um cento de palavras
e um cesto de versos
não definem
definham.
desatuar o estabelecido
e olhar para
o desvio
] é lá que vive
o mais sublime
desatino [
desate
deserte
desvá
*
Amarrado a um cometa às três da tarde
cansar de horas
não consultar mais
oráculos
fugir de visões
antever só o que
se sente
subir alto e
antes do tombo
construir a queda
como quem levanta um castelo
exercitar o verbo
enquanto
atadura
e sabotar as frequência
de qualquer aviso
precisar cair
como amarrado
a um cometa
como enjaulado
no mundo
como quem
toca a liberdade
ainda criança
e nunca se esquece
sem projétil
atirar-se
rompendo com o tecido epitelial
da atmosfera
e uma sequência
de alfabetos
surgirá
milhões de luzes
a vida urge
pra nascer
e
naquela altura
qualquer grito
é um nascimento
em ondas de
agito, ferve
o choro
*
nam man
i am a man
i am aman
iam aman
i’maman
i’m mama
i am a man
i am aman
iam aman
i’m my man
*
Tempo de cryse
o tempo
cria cicatrizes
neste azul
e cada marca
fortalece
a incerteza
do peso
do céu
gentes
que carregam nuvens
nas costas
edificam
muros para habitar
melhor
a fumaça
e regam
com suor e
lágrima
e porra
as suas
misérias
*
Deforma
centenas de
lagos
sequências de
lados
a parte principal
de cada caco
substituição
das mãos
por cascos
cada cor
e o seu
arco
todos esses
fósseis
de formas
expandem e
explodem
a velha noção
aristotélica
do poema.
*
os poetas
os poetas
silenciosos
esses que vivem em
casas fora do tempo
e dormem em quartos
f l u t u a n t e s
esses poetas
que tem em letras
mistérios
gozosos
e que fazem do medo
um órgão
invisível
esses mesmos
poetas
que almejam a rua
que vivem a rua
que nascem na rua
esses
esses sim
esses sim
sentem
mas não mais
do que
ninguém.