Seis poemas de Cleber Luz
Cleber Luz é poeta, talvez, de nascença: iluminou-me o sobrenome “luz”. entre textos e contextos e sem contextos também, estou a finalizar minha graduação em letras, pela UNESPAR (universidade estadual do paraná, no findar deste ano de 2019. escrevo poemas, mas ainda não os publiquei. estou em processo de reflexão sobre este suporte: um livro?. seriam inéditos, esses poemas, caso não fossem filhos da poesia do cotidiano. resido na cidade de campo mourão – interior do paraná. onde, volta e meia, um poema passa.
***
no tardar,
em meio às coisas esquecidas
eu, nauseado
perscrutando porquês
tu,
no entre,
tumular,
em tua cama-de-pedras, jazias
à esquerda,
outros tantos, in-fortúnios
riem seu pulsar eloquente
[ouro dos tolos]
e sem tumultuar
mãos embalam a matéria inóspita
em papel luminoso
*
na esquina da escola, a lição do dia:
esquentai-vos uns aos outros
…
porque é de calor essa matéria de carne
de frio, a outra,
expectante.
temida.
silenciosa.
no cabide…
moço, por favor, não leve o cabide. o cabide fica. porque ele não te esquenta.
*
de um outono não tão azul se fez este
mas de um amarelo-marrom
com olhos negros
muitos olhos
o que viram, nessa estação, esses olhos?
tempo?
viram o tempo?
e o que és tu, tempo? [pergunto]
temo que viram o tempo de um tempo que é já não está
e aí não há mais tempo
por mais que, por trás, seja verde
mas
não te enganes com o verde
pois amarelo
*
temo ter me tornado poeta
talvez, quando nasci, pela estranha falta do choro
talvez, andante, por aí, por aqui, não sei onde,
caminhante
temo que me tornei poeta
se choro, meu choro faz renascer nascentes de uma água que há muito
[o medo secou
se rio, meu riso ilumina-me a mim mais que a própria luz das luzes
[de todas as luas e a minha própria luz
hoje, sinto-me ilha
sou uma ilha
dismensionada
uma falha geográfica
então, não meça-me
é inútil
pois, não tendo dimensão, não me mencionam
e os porquês eu não os tenho
talvez, por me ter tornado poeta.
*
manjedoura
jovem demais para tanto sentir
– nasci poeta.
*
quando não for mais hora
baterás à porta:
não há ninguém, dirão.
e ouvirás o cão que late
e a rua anoitecida
e o mar adormecido – o dentro.
adentro
e o mundo, mudo
dizendo:
nada!