Sete poemas de Juliana Toivonen
Juliana Toivonen, nascida em fevereiro de 2000, descobriu a paixão pela escrita logo cedo, mas hoje, estudante da Universidade Federal de São Paulo, no curso de Letras, segue explorando histórias vampirescas – hoje nas obras vitorianas-, mas foi na poesia que se encontrou como uma possível escritora e pesquisadora. Publicou o livro de poemas “palavras roubadas de mulheres mortas” pela Margem Edições em 2021.
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lacônica
intimidada pelo papel
inscrita e entrecruzada
encoberta em fiapos
de uma linguagem fantasmagórica
nas mariposas de plath
jaziam as pedras
o abismo a escrita
embalsamada e sublime
sem memória, água viva
em sua calça de linho
pelos cabelos de augustina
talismã de ninguém
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evocação
nos talheres caídos
na sala de jantar
sinto o teu sangue
quente e pegajoso
da quina da escrivaninha
no quarto ao lado
palavras melódicas
em claustro rígido
dentro de ti
o rumo da imaginação
nada mais romântico
que uma dona quebradiça
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o assassinato de medeia
posto que és versada em toda a sorte de malefícios
o creonte moderno chega em casa ao cair da noite
invoca sua lata de cerveja e ratifica os resultados dos jogos da última quarta-feira
o jasão moderno com sua carona cedida
ceifa as ervas poderosas por um instante
a medeia moderna segue nas fontes dos lares
até o dia em que seu sagrado é invadido e rasgado
assassinada pelo homem do lar
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o livro dos fazeres
mais uma mulher
explorada
de pouca relevância
mergulhada no fora de si
de arquétipo heroico
por excelência
mas envolta nos
estereótipos da subexistência
como eu deveria
me criar como alguém
se sou dona de uma
alma incomensurável?
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encenar feminino
o feminino não nos é
permitido é posição
cutucada machucada
feminino é encenado
é desaparecimento
desfazer laços
ensinado vinculado
finitude humana
santa ou bruxa
joana d’arc em chamas
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a poesia da mulher louca
quando não imaculada
santificada
distante de virgem maria
mulher é tentação
perdição
de comportamento desviante
animalesca
precisa ser domada
quando violentada
ela estava pedindo
ventre corrompido
simulacro de eva
não tocar e não interromper
castigue, mesmo que ainda
criança
todo tempo é idade das trevas
quando se é mulher
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a carpideira
no ar suspenso vejo a ti
e do vapor temperado
o resquício daquilo
que chamei de família
hoje a casa sem teto
se afoga em sonetos
e nas palavras roubadas
de mulheres mortas
a harmonia, a devoção
o abraço, o acolher
fugi das cantigas de lamento
da hóstia vazia e espiritual
meu território virgem de palavras
e de estética familiar
da parede, minhas vírgulas
o teu sofá e o crato
sua lembrança
a carpideira agora vive em mim