Sete poemas de Luiz Renato de Oliveira Périco
Luiz Renato de Oliveira Périco (1983 – Jacarezinho/PR) é bacharel em Letras pela FFLCH-USP e em Direito pela FDUSP. Vive em São Paulo/SP, onde é funcionário público. Em 2006, foi segundo lugar no II Festival de Letras da FFLCH. Em 2009, teve um poema publicado na antologia do VIII Prêmio Literário Asabeça. Em 2013, teve poemas publicados na antologia Navegando na Poesia, com poetas de sua cidade natal. Em 2014, obteve menção honrosa no 22º Programa Nascente, da USP. Em 2017, publicou um poema na revista Lavoura. Em 2020, publicou na Revista Toró. Os poemas acima são do livro Forma Amorfa, ainda inédito.
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DIÁSPORA
No dia em que eu saí da minha terra
Meio como que expulso da minha casa,
Meio como quem foge de uma guerra,
Meio que um passarinho sem ter asa
Que sai do ninho sem ter rumo ou norte,
Meio como o caçula que se casa,
Meio pro exílio, meio como a morte,
Meio que aquelas férias esperadas,
Meio que como um meio de transporte,
Meio que um mochileiro pela estrada,
Meio pelo caminho de Santiago,
Meio um náufrago preso em sua jangada
Sem saber muito bem por onde vago,
Trouxe você comigo. E ainda trago.
*
PREOCUPAÇÕES
Às vezes é o fígado de Prometeu
Às vezes é a pedra de Sísifo
Às vezes é o regresso de Odisseu
Às vezes são as contas do mês
Às vezes são os trabalhos de Héracles
Às vezes é o baú de Pandora
Às vezes é o peso de Atlas
Às vezes são as contas do mês
Às vezes é o pomo de Éris
Às vezes é o enigma da Esfinge
Às vezes é o oráculo da Pítia
Às vezes são as contas do mês
Às vezes é o calcanhar de Aquiles
Às vezes é o reflexo de Narciso
Às vezes é o barqueiro do Aqueronte
Às vezes são as contas do mês
*
EUCARISTIA
Quem partiu o pão
Partiu o Pai
Quem rasgou o véu
Rasgou o céu
Quem se derramou
Se deu e amou
Quem a Si nos deu
Nos deu a Deus
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CANÇÃO DA BABILÔNIA
Ser peregrino aqui, terra natal
Em que eu nasci, cresci e morrerei
E serei sepultado no final
E depois do final ressurgirei
Voltar pra onde eu nunca estive antes
E de onde não devia ter saído
Se passarão mil anos ou instantes
Até que tudo tenha se cumprido?
*
AO MONSTRO COM CARINHO
mas vê só se pode
queria ser Leminski
mal consegui um bigode
Leminski é coisa séria
tem toda a solenidade
e a pompa da pilhéria
tem todo aquele mistério
de quem não se leva a sério
não pode ser seu discípulo
quem tem medo do ridículo
*
DÍSTICO
Pra quem atira, o míssil
São fogos de artifício.
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METAFÍSICA DO FRACASSO
A possibilidade do fracasso
Já é se a potência já for ser,
Ser fraco e impotente, ser escasso,
Mas mais ser do que possa parecer.
A possibilidade da vitória,
Por sua vez, não é sequer potência:
Ou ela concretiza-se na história
Ou nunca foi possível sua existência.