Sete poemas de Maria Celeste Bastos
Maria Celeste Bastos nasceu em 1960, na cidade do Rio de Janeiro, onde morou até os três anos de idade. Após esse período, passou a residir em Brasília – DF; ficando durante sete anos em um orfanato. Quando saiu do orfanato, foi exercer trabalhos como babá e empregada doméstica, com intuito de estudar e ter moradia e alimentação. Seu maior prazer sempre foi escrever poemas. Guardava todos os que escrevia em uma caixinha. Uma lembrança angustiante foi o castigo recebido por sua patroa, que jogou seus textos no lixo, como punição por ela recusar-se a faltar à aula. Com dezoito anos de idade foi para Brumado – Bahia; lá, começou a trabalhar, vendendo acarajé. Nesse período, conheceu a Professora Daniela Galdino, que, ao tomar ciência da sua facilidade de escrever poesias, interessou-se e interferiu, de forma positiva, na sua história de vida.
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Doce vida triste
Houve dias que quis o silêncio
E o vento transformou-se em orvalhos
E minhas lágrimas eram apenas chuvas
Rolavam em estradas sem rumos.
Ser apenas uma flor
que as tempestades arrancam de suas raízes
de uma vida triste.
Mas tanta tristeza bela,
as chuvas e tempestades
são certezas de dias de primavera.
*
Acaso
Vejo a vida desfiando, entre dedos,
e uma voz rouca sufocando uma amargura,
e as lágrimas ajoelham perante o tempo,
pedindo uma chance à vida.
O corpo de um acaso
chega ao fim de uma vida irremediável
onde se separa um corpo da alma
e mata a mente da sabedoria.
*
Para você, felicidade
A minha porta está aberta
Todos os dias eu espero a felicidade
O vento entrou e balançou a minha janela.
Arrumei-me todos os dias,
para que a felicidade chegasse e me achasse bela.
Mas o tempo embranqueceu meus cabelos,
desarrumou o meu rosto, deixando-me rugas.
Precisei sentar, era longa a espera.
Tudo que eu guardei não valia mais nada.
Felicidade, quando entra, abre uma caixinha dourada.
Nela tem meu coração
Já não estarei à sua espera.
*
Rosas suburbanas
Todas as estradas nas quais a luz caminha na mesma rota
Extremos cansaços de vida marcada
Cinzentas noites de delírios.
Não existe o pulmão das auroras
A boca seca em palavras mudas
A nudez e o foto do dia.
Delírios, faísca históricas na boca do vício
Meretrizes suburbanas choram a morte,
pelas estradas do destino
Rosa suburbana perdeu seu caminho.
*
Retratos da Poesia
A poesia é como o céu sem curvas
A caminhar linha reta de meu caminho
As palavras que sempre quis falar
Um mundo imensa para eu conquistar
São o dilúvios dos meus recomeços
São valores éticos e pudore da renascença gótica da vida
Viajo no mundo que me espera
Não sei qual vai ser a conquista
Já fui conquistada
A força da poesia é retrato de um alma sem idade
A criança que viveu
A adolescência que passou
A doce velhice para renascer
Fatos, relatos, retratos
A sorrir pela poesia.
*
Casa perdida
Janelas que me mostraram os horizontes
Portas que abriram o meu futuro.
Casa que acolhera meu corpo débil,
para os flagelos da vida.
Hoje, meus caminhos desviaram-se
E em algum lugar estará uma casa perdida.
*
A própria morte com medo da vida
Esta arma mata um amigo e inimigo
destruiu a minha humanidade.
Hoje sou nada não, moça.
Sou a raiz da fúria.
Valente homem amargurado.
Nunca encontrei o bem da flor.
Tenho medo dos sussurros das palavras.
Sorrir é um desafio à minha loucura.
Gargalhadas preenchem um vazio interior.
Felicidade não existe.
Se a vida não tem valor
em minhas mãos,
não preenche meu coração.
Quem sabe se uma dia sentir homem,
foi só nas vezes que desejei ser amado.
Só o ódio pela minha maldade
faria eu renascer.
Mas sou, hoje, a própria morte com medo de viver.