Três crônicas de João Victor Filgueira
João Victor Filgueira (26.08.1996) é nascido em Mauá – SP, escreve e tem participação em revistas, antologias e concursos. Escreve ensaios, crônicas e poemas. Colaborador da rádio BAND FM de Foz do Iguaçu, dando dicas de leitura e escrita aos ouvintes, com o livro no Wattpad: João & Jornadas. E não anda fazendo outra coisa nos últimos anos a não ser escrever e estudar Literatura, Filosofia e História. É influenciado por nomes como Bukowski, Fernando Pessoa e João Guimarães Rosa. Estuda a escrita de Machado de Assis e o pessimismo de Schopenhauer.
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QUEM GOSTA DE GATO
O gato lá de casa faleceu; quer dizer, mataram! Passagem árdua e estranha: a morte. Principalmente quem tem irmãos mais novos, era uma felina, não tinha nome – sempre que procurávamos tínhamos por (gatinha). Preguiçosa, comilona e quieta e, por tais motivos mesmo, não sei o por quê de um filho(a) da puta entregar veneno a um bicho desse… daí vemos a tragédia da morte; sem velório, lápide ou reza, apenas foi-se. Até explicar que a gatinha está num lugar melhor, que o sofrimento acabou e todo aquele sermão do qual o adulto tende à criança e o mesmo se enrola – fica uma nuance da fragilidade atormentante; poxa, nunca mais veremos a gatinha! Não faço um discurso demagogo ou dramático, mas nunca vi aquela criatura entoar um miado! Até com fome esperava sua vez (porque temos mais um). A morte é como o assalto: assistida na televisão, lemos na revista, ouvimos do parente e sempre achamos que não vai nos atingir – bom atingiu… grotesco você saber que nunca mais verá o gato ou a pessoa, quem deu o veneno ou pode estar feliz ou mais ególatra, antes ainda mais: ego-histeria deve ser o termo que fez a judiação devido a todo louco precisar de um gatilho para sua maluquice. Mesmo o desgraçado (a) não sabendo tais termos. É clássico mortes assim, nem preciso mencionar que vêm de pessoas que não gostam de animais, mesmo ela sendo um. É de tal ignorância que mal sabe a espécie à que faz parte. O moleque que perdeu a gatinha tá mais forte hoje, não era nossa desde pequena… achada na rua foi pra casa matar a fome e nunca mais saiu, hoje em dia ela mata a alegria, aliás, já matou. Hoje tá morta e a vida continua seguindo seus rumos. Isso é só pra você ter clareza de que a vida é pó, um dia retrato e noutro nem lembrança e os cruéis ainda vivem.
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O DONO DA TABACARIA SORRIU
Datado de 1928, “Tabacaria” com toda certeza é o poema mais poderoso que uma mente humana pode conceber, se é que Fernando Pessoa foi um ser humano… divinamente esse poema em seus próprios trechos se transforma incansavelmente, de uma forma que não se deixa dever em qualquer outro poema ou poesia. É de uma fase intimista infalível, de um pessimismo e realismo mortal! Todos os sentimentos como o niilismo, a desilusão,o fingimento, o ser humano como o é, as guerras como são, num eu profundo incerto supostamente.
Há tantos o Eu-poético em versos escreveu, recitou “tenho em mim todos os sonhos do mundo”, sem sequer saber o que era sonho, o que era profundo e quem era Fernando Pessoa (ou quem são). Tabacaria têm várias maneiras de ler, de interpretar-se; o maior dos Poetas conseguiu seguir a alegação de escrever o maior dos Poemas.
Convençam-se leitores, leiam Tabacaria e vejam o quão o homem pôde chegar, há algibeira das calças, os versos, os passeios, os cães que também existem… vejam; não minto e não faço lalomania… mas peço não façam de vocês o que não são! Desmintam essa ilusão que os importa, somos reles, deixamos tabuletas e versos pensando, assim, que transformamos muita coisa. Ou nenhuma coisa ou nem outra.
Deverás sentes só, unânime ao direito de ser, de se sentir ter, de olhar-te a tudo o quanto antes pode, deve, ignora e requer-te. São os anos que pesa e complica o desejo de ser simples e feroz ao mesmo tempo, pernas finas, corações quietos e visões sufocadas. Pelas mesmas intenções de que Pessoa escreveu, nenhuma, ao menos. Ah, e o dono; o dono da Tabacaria sorriu.
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SOBRE O FIDEÍSMO
O erro de ser religioso polarizado da fé é o mesmo erro que muitos invocam em um homem materialmente falando; digo… em que se pode tocar, achando assim que esse vai ou, já trouxe justiça e equidade à alguma sociedade em alguma época, deixando de lado sua prole e sua satisfação pessoal. Alguns não têm escolha nenhuma se não ter fé! Essa não generalizada como acima, essa não polarizada como é pronunciada diversas vezes ” religiões diferentes e o mesmo deus”. É como a virtude, só se sabe quando perturbada, só se é um homem virtuoso quando é testado na promiscuidade. Dessa forma se espera no que acredita. Inúmeros em imagem, outros em terços, os fartos em descrenças também, ainda mais, os intitulados “racionais” continuam acreditando em homens; esses que desnortearam uma civilização inteira, não citando nomes, apenas alguns anticristos quando estudados de maneira profunda, como: Charles Darwin e Galileu Galilei; o termo “dividir para conquistar” nunca esteve tão em alta, mostrando assim o monopólio que ainda atingem, prova essa é formalizada em obras da Literatura como: A Revolução dos Bichos (1945), Admirável Mundo Novo (1932) e tantos outros ensaios e romances. Tudo foi inserido em determinação do que agora acontece, o felizardo ou não que acompanha tais fundamentos se vê privilegiado no discernir da questão e se aprofunda ou passa por louco quando se explica diretamente os acontecimentos aos leigos, dito isso, fica claro o que Cristo Jesus queria dizer ao falar – “não deis aos cães o que é santo, nem lanceis ante os porcos as vossas pérolas”. Por isso, se tratarmos o erro do religioso, a espera de um poder em ajudar e a humildade de um homem que pode-se corromper é o mesmo de querer ver passar em plena rua um cateto ao quadrado, ou uma hipotenusa na esquina tomando café. Como há acertos, na maioridade o homem errou em tudo ao descrever o seu contemporâneo. Lembre-se: só existe o anticristão porque existe o cristão.