Três poemas de Bernardo Dias Ceccantini
Bernardo Dias Ceccantini nasceu em Marília (SP) em 1995 e cresceu em Assis. Em 2005, mudou-se para São Paulo. Na quina das paredes (7letras, 2017) – semifinalista do Prêmio Oceanos 2018 – é seu primeiro livro de poesia.
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Veja pai se as minhas mãos na mesa não lembram as do avô
Se não rebentam em dedos grossos e grandes como os de um ferreiro
Se não seguram firmes e por inteiro um orgulhoso cachimbo de imigrante
Venha e veja vó que elas não titubeiam rodando a roldana do isqueiro
Arrastado na mesa com o estrondo sólido do cargueiro tombado
Arrancam o fogo enquanto marcham pro carregado copo de café
Nosso tronco é inchado e trava no pulmão um fumo negro
É momento do queixo contraído como o seguro baú mediterrâneo
Nossa barba vira quente e ruiva na vontade de trabalhar
Lanço círculos arriscados quando expiro a fumaça
Logo depois do café queimar a minha língua.
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O contínuo das estradas que movimentam nossas vidas pra Araxá
Montanhas de verde mostram que minha casa de manhãzinha deixada pra trás não encobrem mais a gente do mundo que é vento incabível em moldura
Mundo de sol amarelo que vem lá de fora por inteiro e esquenta o interior dos meus braços até aparecerem alguns pelos loiros bronzeando a minha pele que busca o dourado de meu pai
Ele pega nas mãos do meu irmão que está sentado com seus cabelos sinceros de pretos-poucas-preoucupações que minha mãe comenta o tanto que são lindos meu deus e o tanto que são diferentes do meu
Montantes de fazendas abraçam quentes os finaizinhos de tarde na fronteira pra Minas
Em embriões de poemas trágicos percebo o redondo na Terra.
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Meus olhos encontram a noite no grande azul negro
Toma o céu em espaços desconhecidos dos meus velhos livros de astronomia
Toma o estranho simpático cochilando no meu ombro até pelos pontinhos de luzes na cidade orvalhada
Toma a reza constrangedora dos motoristas mineiros no começo da viagem
Toma tudo que eu tenho exceto o poema
Toma.
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Te entrego como de costume um novo poema meu
Há um peso nas suas ancas ao sentar na cama indicando que essas leituras são também parte da cobrança
– Estamos sim crescidos das vermelhas cartas de amor e do conhecimento mútuo
Sento no xadrez da poltrona e o meu pé bate a expectativa encarcerante do seu reconhecimento
Devo te pedir de provisório que se lembre do manual que nos assegurava que a poesia não é espelho não
(Ao menos quando o leitor ascende da linhagem cintilante das primeiras namoradas)
Assim o poema vai te aparecendo no peito como um atlas perdido dos nossos problemas
Você aceita que será escrita embora me desconheça os sacrifícios das tintas e das mentiras dos sons
Gostei, você me diz e é de novo
Logo depois chora a penúltima lágrima da nossa inocência
Ivy MENON
Que coisa lou-ca de LINDA!!!! Foi SHOWcada!!!!