Três poemas de Cecilia Pavón traduzidos por Eduarda Rocha
Cecilia Pavón (Mendonza, 1973) é escritora e tradutora. Fundou junto com a poeta e artista plástica Fernanda Laguna a editora e galeria de arte Belleza y felicidad, um marco para a cultura underground argentina no final do anos 90 e começo dos 2000. A autora publicou diversos livros de poesia e contos, entre eles a antologia Un hotel con mi nombre que reúne sua produção poética até 2012. No Brasil, a antologia Discoteca selvagem foi publicada pela editora Jabuticaba, em 2019, traduzida e organizada por Clarisse Lyra e Mariana Ruggieri. Seus livros mais recentes são Todos los cuadros que tiré (Eterna Cadencia, 2020) e La libertad de los bares (Mansalva, 2020).
Eduarda Rocha é doutora em Estudos Literários pela Universidade Federal de Alagoas. Pesquisa e traduz poesia latino-americana contemporânea. É co-editora da revista em PDF Felisberta.
***
Fragilidad de los miedos
Como si el miedo cupiese
en un bolso rojo
Como si en vez de miedo
pudiera decirse cerezas
Algo rojo que
nace de la tierra
o la luz de la creación
Una casa con paredes blancas
sin muebles ni aparatos
apenas una hiedra verde claro
trepando por el patio inexistente
No sé si estoy sentada en
ese patio o en mi escritorio
cuando pienso que mi paradigma no es tu paradigma
que tu paradigma no es mi paradigma
Y hay fuerzas extrañas que participan de esto,
Posiciones en el espacio y puntos
Mi paradigma no es tu paradigma
Y un poema es algo negro e iridiscente.
*
Fragilidade dos medos
Como se o medo coubesse
numa bolsa vermelha
Como se em vez de medo
pudesse dizer cerejas
Algo vermelho que
nasce da terra
ou a luz da criação
Uma casa com paredes brancas
sem móveis nem equipamentos
apenas uma hera verde-clara
escalando o pátio inexistente
Não sei se estou sentada nesse
pátio ou em minha escrivaninha
quando penso que meu paradigma não é seu paradigma
que seu paradigma não é meu paradigma
E há forças estranhas que participam disso,
Posições no espaço e pontos
Meu paradigma não é seu paradigma
E um poema é algo negro e iridescente.
*
Es malísimo lo que estoy escribiendo,
no creas que no me doy cuenta
y todos los audios de whatsapp que te mando
que no son nada
todo porque durante tres días en Santiago
sentí que un hombre – vos –
me trataba bien.
En realidad me odio a mí misma y odio a las mujeres
que siempre están buscando un hombre
fuerte que las salve y las proteja.
Hoy me desperté a las cinco,
me hice un café
y vine a la computadora
a escribir este texto malísimo.
Pienso que soy una escritora tan simple
que siempre voy a ser una escritora amateur
que solo puede contar lo que le pasa,
es decir, nunca seré una observadora abstracta del mundo,
ni podré estar por encima de mis circunstancias
(mis circunstancias ahora son estar discutiendo esto con vos,
es decir, estar hablando de feminismo con un hombre).
Pero también pienso que vivir así es destilar
un veneno dulce
como si mis dedos,
mis brazos,
mi pecho
y todo mi cuerpo
estuviesen hechos de la carne de alguna flor
que cuando apretás
y apretás
en un mortero
desprende una esencia.
Quizás esa sea una buena metáfora
del amor heterosexual:
los hombres extrayendo
todo de las mujeres
el arte extrayendo
todo de las mujeres
el mundo extrayendo
todo de las mujeres
y así.
*
É péssimo o que estou escrevendo,
não pense que não me dou conta
e todos os áudios de whatsapp que te mando
que não são nada
tudo porque durante três dias em Santiago
senti que um homem – você –
me tratava bem.
Na realidade me odeio e odeio todas as mulheres
que sempre estão buscando um homem
forte que as salve e as proteja.
Hoje acordei às cinco,
fiz um café
e vim ao computador
para escrever este poema péssimo.
Penso que sou uma escritora tão simples
que sempre vou ser uma escritora amadora
que só pode contar o que lhe acontece,
ou seja, nunca serei uma observadora abstrata do mundo,
nem poderei estar acima de minhas circunstâncias
(minhas circunstâncias agora são estar discutindo isto com você,
ou seja, falando de feminismo com um homem).
Mas também penso que viver assim é destilar
um veneno doce
como se meus dedos,
meus braços,
meu peito
e todo o meu corpo
fossem feitos da carne de alguma flor
que quando você aperta
e aperta
em um
pilão
libera uma essência.
Quem sabe essa seja uma boa metáfora
do amor heterossexual:
os homens extraindo
tudo das mulheres
a arte extraindo
tudo das mulheres
o mundo extraindo
tudo das mulheres
e assim por diante.
*
Taller literario
En la clase de gimnasia
pasan una canción
re conocida de los ochenta
que dice:
I go up up up when they try to get me down,
y pienso que el rock es el arte del capitalismo.
¿La poesía será el arte de lo que viene después?
Quiero saber
qué viene después,
quiero comprar libros que me hablen
de lo que viene después,
necesito esos libros
son de una editorial de Buenos Aires,
obviamente.
Necesito saber si la poesía es la forma de arte
de lo que viene después del capitalismo.
¿La poesía de los estados de ánimo es la forma de arte
de lo que viene después del capitalismo?
Los estados de ánimo son la alegría
de la que no tiene sentido huir.
La poesía es un tesoro en mi interior,
la poesía es la forma de arte
de lo que viene después del capitalismo.
*
Oficina literária
Na aula de ginástica
tocam uma canção
muito conhecida dos anos oitenta
que diz:
I go up up up when they try to get me down,
e penso que o rock é a arte do capitalismo.
A poesia seria a arte do que vem depois?
Quero saber
o que vem depois,
preciso desses livros
são de uma editora argentina,
de uma editora de Buenos Aires,
obviamente.
Preciso saber se a poesia é a forma de arte
do que vem depois do capitalismo.
A poesia dos estados de ânimo é a forma de arte
do que vem depois do capitalismo?
Os estados de ânimo são a alegria
da qual não faz sentido fugir.
A poesia é um tesouro em meu interior,
a poesia é a forma de arte
do que vem depois do capitalismo.