Três poemas de Diego Adib
Diego Adib: poeta, escritor, palestrante e educador. Autor do Livro No espelho eu sou você e de Bicharge (Vol.1, Vol.2 e Vol.3), mais novo projeto infanto-juvenil, aguardando o seu lançamento para este ano, no mês de setembro. Participou de Antologias Poéticas, Concursos Literários e Feiras de Livros, e o seu objetivo maior é mesmo participar do famoso Prêmio Jabuti.
Em suas obras, procura, com a ajuda da liberdade poética, mostrar um estilo próprio, dar vida a um novo movimento, musicalizar os versos, para que a leitura seja, pelo menos, apreciável, variar temas, tentar se diferenciar ao usar, enfim, jogo de palavras, humor, irreverência e ironia como instrumento crítico, uma metalinguagem, um surrealismo e antítese; assumir um caráter de reflexão filosófica e inovador.
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Cada Ver
Só de pensar, alimento; alimento de pensamento.
Quando tenho sede, atravesso o deserto e bebo do meu sangue.
Ponho o barco no mangue; subo feito calango nas paredes;
inverto as coisas de modo certo.
Fumo o cigarro apagado;
fumo o cigarro como se não tivesse fumado.
Vivo o futuro, pensando no passado;
durmo com a insônia na cabeça.
Penso e, na mesma hora, penso que o melhor é que de tudo eu esqueça;
mas esqueço que esqueci naquilo que vivo sempre pensando;
pensando sobre amnésia; na qual, sobre esse assunto, sobra-me ideia.
Assim, penso em algo que penso que conheci e que desconheço;
penso conforme esqueço.
Sou assim e a vida vai passando;
e eu cultivando somente aquilo que colhi;
no mesmo compasso vou mudando os passos;
até meus próprios passos ultrapassando.
Na qual, não escolhi nascer;
e só vou morrer depois de viver tudo que tenho que viver;
ainda não sendo esta a vida que escolhi.
Ah! Se fosse para ser o que eu quisesse ser;
não deixaria de ser o ser que é do meu querer;
vivendo sem saber;
sabendo no fim,
que, enfim, serei, sim, um defunto;
e comigo a vida levarei junto.
Então, eis a questão:
Ser ou não ser.
Mas, como CADA VER de uma maneira,
com o crânio da caveira na mão, pergunto:
– Ser ou não ser,
mesmo um cadáver.
*
Music Match
Anjos não tocam banjos; sim harpas douradas.
No céu, tão modesto, está Deus com a batuta,
comandando com muita luta
a orquestra para ficar bem afinada.
Com o diabo, em disputa com o criador,
fazendo um barulho infernal.
Assim, o céu todo em festa,
como evento musical,
promove um festival.
Deus inova com um coral;
uma música que, além de calma,
dava para sentir na alma.
Todos ouviam como se fosse uma seresta
aquele canto de louvor.
Lúcifer com integrantes da banda,
que traziam guitarra elétrica, contrabaixo, teclado e bateria,
apresentaram este no vocal.
Enfim, como cantor,
sem que impressione a maioria,
testou o microfone
e começou após a melodia
ao som de um Rock & Roll totalmente radical.
A plateia, acostumada a dançar ciranda,
como torcida na hora do gol,
festejou tanto naquela ocasião;
fizeram uma confusão;
mais parecia carnaval.
Talvez pela mudança,
pelo escarcéu em geral,
até o Pai Celestial entrou na dança.
Mas, depois que a música chegou ao fim,
tudo voltou ao normal.
Entre o som da trombeta,
anunciou o querubim, que o vencedor
não era ninguém mais do que o próprio capeta.
Que, humildemente, o Altíssimo entregou-lhe o troféu,
E, por favor, pediu discretamente,
que não mais volte a cantar no céu.
Oh!Céus!
*
Duas Faces
Sou aquele que você sempre espelhou em ser;
não tenho vergonha disso dizer.
Olho e te vejo em mim;
mesmo quando não escolho, me vejo assim.
Se, porventura, esqueço, corro para lembrar o teu jeito.
Admiro-o, sem notar nenhum defeito;
encontro-o sempre no mesmo endereço.
Onde está, ali, também, estou;
sinto que é o mesmo que sou.
Tenho-o acordado;
jamais de olhos fechados.
Dividimos o mesmo reflexo, o mesmo sexo.
Não precisa ter complexo:
belo é teu rosto.
Vivemos o oposto:
ficando do lado de dentro,
e eu por fora.
Onde está, não entro;
mas, em mim, incorpora.
Cada vez que te vejo,
vejo que nunca vai embora.
Ao dar saudade, eu mesmo apareço,
permaneço quando invade.
Percebo que, com tua pessoa, muito assemelho;
e que bem o conheço do espelho.
Tenho esperança de que ele, um dia, quebre;
enfim, se abra,
e como abracadabra,
celebre,
abrace,
nossas duas faces.