Três poemas de Helena Monteiro
Helena Monteiro (Maria Helena da Silva Lima) nasceu em 29/06/1968, em Santo Antônio/RN. Graduada em Letras e Bacharel em Psicologia, Especialista em Saúde Pública, Poetisa, Escritora e Pesquisadora da Cultura Popular. Tem 4 livros de poesia publicados (Fecundação, 1997; Borboleta na Chuva, 1998; As Noites e a Ventania, 2003; e Os Sons da Maré, 2019). Participou de 3 Antologias (Há uma Primavera em cada Vida, 1994; 20 Poetas Novos, 2003 – Fundação José Augusto – RN, sendo uma das ganhadoras do Concurso literário Luís Carlos Guimarães; e Um Salto Poético, 2018). Também enveredou pela prosa e publicou 2 romances de cunho autobiográfico (O Que Não Cala em Mim, 2004, Mulheres Que Amam, 2007). Realizou o documentário: Santo Antônio de Todas as Artes, patrocinado pelo MINC, BNB e FJA. No campo de pesquisa, publicou o livro As Tiradeiras de Benditos, 2011 – FJA. É Sócia-Efetiva da Academia de Letras e artes do Agreste Potiguar – ALAAP e do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte – IHGRN.
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Pessoas
Quando partes
Deixas em mim
Aromas de raízes
Que plantastes.
Não sei quem sente
o que sinto
Nem andas a ler o mundo
como imagino
Por isso…
Me perco a cada esquina.
As ruas para mim
são pessoas
que as escolhas
deram-lhe outras esquinas
Mesmo assim não as deixei
de amar.
Confesso,
E se as deixei de amar
Foi um amor meio correnteza
que naufraga no mar.
Mar de incertezas…
*
És noite
És noite
e moras em mim
minuto a minuto
sonho com o dia
nas cinzas da madrugada
pensamento voa
coração rasgado
pelo véu do amor
que se quebrou
Ouço todos os sons
que o vento arrasta
ouço as melodias
que os grilos cantam
enquanto os pássaros
dormem em seus galhos
a vazia cama arde
Ora conduzo a chama do fogo
ora a quietude das marés
o tropel dos gatos sobre o telhado
desperta à imaginação
enquanto os cachorros ladram
mastigo segundo a segundo
sustentando o leme
que reinventei
nessa travessia
da dispersão do meu ser
ou do meu viver.
*
Temporais
Eu precisava falar com Deus
Saber da minha vida
Por que ninguém me entendeu.
Eu precisava falar com o vento
Dividir com ele os pensamentos
E ouvir os seus sussurros.
Eu precisava correr contra o tempo
Desalinhar os cabelos
Sorrir dos temporais da mente.
Eu precisava dizer adeus ao passado
Fechar janelas e portões
Mesmo sangrando o coração.
Eu precisava de um ombro desconhecido
Que ouvisse meus delírios
Incompreensíveis aos seus ouvidos.
Eu precisava partir esse espelho
Me dividir por inteira
Sem medo de me perder.
Eu precisava de uma rosa feito a lua
Brilhante feito o sol profunda feito à noite
Para entender quem sou.