Três poemas de Heyk Pimenta
heyk pimenta é poeta, pai, etc. nasceu em manhuaçu-mg em 1987 e vive no rio de janeiro. para pagar as contas, dá aulas de sociologia no ensino básico. esses poemas foram publicados no livro coração fodido (caiaponte, 2021). também publicou a serpentina nunca se desenrola até o fim e surrado (7letras, 2015 e 2019).
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foto com zoé no campo de pontões
não tem futebol
é festa junina
e cebolinha cortada
pra bastiana colocar na canjica
as crianças de caipira as meninas crescidas
com sarda de caneta por cima da sarda de verdade
os meninos ricos de agroboy
os pobres de peão high-tech
o campo tem entulho no mato alto e formiga
olha os olhos do pequeno no vermelhão delas
nos espinhos das costas não tem mais campo
os pés de borracha viram tudo desde o começo
desde o primeiro embornal de pastel
que o elvêncio levou
pra vender no jogo
a vó laura ajoelhava na horta rezava as formigas
chamava elas na bronca elas entendiam no dia
seguinte não tinha mais nenhuma
os pés de borracha continuam jogando
cipó pra gente balançar
mas a tia fatinha tá chamando da janela
descemos numa carreira
lembro de quando joguei um pau nos cachorros
acertou no fio e acabou a luz
*
foto de bigode com zoé
agora o menino não sou mais eu e refaço
com meu menino os caminhos de carrapicho que fiz
antes da fumaça dos secadores de café
poeira da estiagem
os chiqueiros na beira dos córregos
os cachorros pastando as cabras vão fazendo asfalto
vem junto com adesivos do 15 colados nas janelas
mas o ônibus não passa mais o elvêncio morreu
o caparaó se desfez na poeira
a vó laura mostrava
que queimadura da lagarta da carambola
a gente sara passando a meleca da lagarta
ela cortando cidreira correndo atrás de franga
abrimos a lagarta pra passar na carola queimada
cheiro de angu e taioba vindo de todas as casas
é hora do almoço
os bois deixam a gente passar
*
foto que não foi tirada porque era Sarney
e não tinha dinheiro pra foto
lá em casa a bala era festim eu só vi bala de festim
o revólver ficava em cima do armário
que o vô joviano fez
abri as portas subi pelas prateleiras
eu não usava cueca pus o revólver
no elástico do short desci
carregado de festim a ponta das balas
fazendo biquinho igual trouxa
igual docinho de casamento
foi bom andar de revólver pelo terreiro
aquilo devia tar
puxando minhas calças pro chão era um 32
atravessei a rua a machada
arrastando lenha de café e fumando
pus o revólver no balcão como todo mundo faz
e falei firme com o vô lutinho
dá um pirulito vô ele pegou o revólver
disse que ia ficar
lá pro meu pai pegar não me deu
o pirulito não lembro se chorei
raio eu sabia que era festim festim não tem problema
de toda forma eu não pretendia atirar
mas daquela vez
o tio praxedes atirou
no geraldo ecologia
que morreu
só ressuscitou quando avisaram que era festim
coitado morreu mesmo depois riu
que não morrer era bom