Três poemas de Jamerson Soares
Jamerson dos Santos Farias Soares, 24 anos, ator formado em Artes Dramáticas na Escola Técnica de Artes da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), poeta aprendiz, jornalista, nasceu e ainda mora em Maceió, Alagoas. É ator e assessor de imprensa das companhias teatrais Claricena e Teatro da Poesia. Trabalha como repórter no portal G1 Alagoas. Atua na área da comunicação comunitária nas regiões em vulnerabilidade social do estado no projeto de extensão Universidade Popular, por meio do Bureau de Comunicação Comunitária. Tem organizado e seguido um processo criativo para publicar o primeiro livro de poemas “Marítimas”: os poemas abaixo fazem parte do futuro livro.
***
Amarelo
Hoje
ao acordar
caiu de meu olho
uma flor de ipê amarelo
chutei as gavetas de roupas e cartas
que há tempo explodiram raízes
o quarto inundou-se de ipês amarelos
[sorri estrelas
procurei palavras para significar
essa sensação
essa tal sensação de aleluias
& calmaria de mar na nuca
(((não encontrei)))
*
Para não morrer todas as noites: a metamorfose
aprendi a peneirar a angústia / o assombro/ a intimação da
morte / todas as paixões possíveis provocadas pelo ódio /
habito agora no céu no inferno no limbo de minhas feridas
e obliterações internas / que cicatrizam divinamente com o
apagar de relógios / feito corpo glorioso / trânsito
incompreendido cotidiano essa metamorfose amanhecida /
constante mutação do Eu em outros que são um / subjetivo
e sangrando em lágrimas / Eu / descubro a pele que me faz
imperfeito carne & ruína / para depois amanhecer dentro dos
voos de libélulas
*
O coração de um homem em seu quarto sem luz
Uma criança sem membros no coração de um homem
e o coração no chão
as palavras escritas nas nuvens
e o coração numa poça de sangue
visivelmente sem norte
sem bússolas
sem telhados
sem ponteiros de relógio
Kronos é desmembrado em seu peito
e o homem que sou Eu
traz na cabeça o apocalipse
o looping
um meteoro cai na caverna de seus olhos
e o que era são e cristalino
transforma-se em matéria apodrecida bruta nua
(((((((((reverberação do
infinito enquanto instante