Três poemas de José Carlos Balieiro
José Carlos Balieiro é graduado em História pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ) e técnico em Guia de Turismo pelo Centro de Educação Profissional de Caxambu-MG. Atua como professor na rede estadual há dez anos. Além de educador, é escritor, poeta e contista, autor do livro de contos satíricos A crise dos valores (2020) e co-fundador do @proj.caramujo uma iniciativa artística e cultural que visa fomentar o hábito de leitura entre as novas gerações através da magia do teatro de bonecos. É criador da personagem Drummonzinho, fantoche inspirado no poeta Carlos Drummond de Andrade.
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À margem
Nos arredores de minha cidade natal,
solitariamente apartado das gerações,
percorro matas, grutas e plantações
como uma estranha espécie animal.
Conheço tão poucos lugares,
nem sei em que mundo vivo,
de informações, sorrateiro me esquivo,
vago entre pastos e pomares.
À noitinha retorno à cidade iluminada,
pessoas, automóveis, velocidade alucinada.
Na minha casa, certo silêncio, nada se move.
Eu, absorto, leio um romance do século dezenove.
*
Poema de ferro
foi preciso ferrar muita gente
para construir essa nação
ferraram milhares de índios
ferraram milhares de pretos
e continuam ferrando até hoje
caso contrário, nossos bons senhores,
os mesmos senhores de sempre,
não saberia prosperar
sem ferrar com essa gente
*
Pelos
Desliza a lâmina
sobre a pele
pelos reles pelos raspados,
pelos padrões consagrados.
No entanto,
sem ouvir tais apelos,
insistem os pelos
e novamente florescem
como ervas daninhas
pelos
recantos da menina
pelos
vales das axilas,
pelos
segredos das virilhas,
pelos
arredores da cálida flor.
Oh, Floresta inconveniente,
desmatada tão periodicamente!
É século vinte e um, pois bem,
ela se decidiu,
não vai mais se depilar.
-Por conveniência ou ideal-
Teus pelos agora crescem
Em área de preservação ambiental.