Três poemas de Larica
Sou Larissa ou Larica (pseudônimo artisticolombristico), tenho 28 anos, pisciana, sapatão preta, assistente social, poeta ou ruminante da vida. escrevo desde sempre, nas confissões e desabafos dos primeiros diários, depois nas cartas dedicadas aos primeiros amores. sou movida a artes, sonhos e utopias. encontro na arte uma forma de refúgio, para (re)pensar, (re) construir, devanear, acalmar, animar, comemorar e ressignificar minhas dores, bem como um lugar criativo de introspecção e interação com que fui, com quem estou e com quem desejo ser.
***
ela tem um jeito cuidadoso
ao mesmo tempo bruto
uma sensibilidade bruta
apelidei secretamente
brutalmente sensível
tem uma serenidade de uma mulher de meia idade
como se já tivesse desvendado todo mistério do mundo
ela tem uma energia ancestral
que parece ser de alguma rainha do Senegal
ela tem um trato com cautela para as coisas
que é a coisa mais linda do mundo
dá uma impressão de que nada se quebra nas mãos dela
gosto de admirar o jeito terroso dela se relacionar
ela não tem muitas cerimônias
é despachada
é firme mesmo sem afirmar nada
se impõe mesmo calada
na postura
parece ter uma certeza irrefutável
como se soubesse exatamente para que veio quando ela sorri
entrega tudo e a máscara de braba vai junto
*
ela e a inteireza do olhar dela sobre mim nesse mundo de fragmentos
nossos olhares inteiros
nossos cabelos crespos se confundindo na cama ela passando a mão nos meus cabelos nossas peles pretas conversam
se abraçam
o olhar dela crava
a voz se entoca na alma
eu vejo teu nome e algo dentro de mim fica fora de si
ela chegou bagunçando
revirando
aquela fagulha
hoje é fogo brando
*
ela é pôr do sol em noite de lua cheia ela é a vênus de willendorf
esculpida por si e pela vida
é a branquinha de Caetano
ela é a Afrodite
com ela eu fico que nem o céu do sertão a noite toda estrelada
o brilho dela é feito o sol refletindo no mar de manhã cedo os lábios dela é festa
música na minha rádio
é cadência ardência
ela riu(o) e eu viro toda mar
acertou tão dentro de mim
que a química tá pra descobrir
as reações que acontecem no meu corpo todo ao ver ela sorrir