Três poemas de Maria Clara Bertúlio
Maria Clara Bertúlio é performer, atriz, cantora, diretora e poeta. Graduada em Tecnologia em Teatro com habilitação em direção pela Universidade do Estado de Mato Grosso/UNEMAT (2018/2); tendo cursado 2 anos de bacharelado em Artes Cênicas pela Faculdade de Artes do Paraná/UNESPAR. Dirigiu as peças Império Dell’Arte (Cine Teatro Cuiabá), Pacto de Sangue (Cine Teatro Cuiabá/Festival Velha Joana de Teatro – Primavera do Leste (MT)/Festival Satyrianas de Teatro – SP), Tomara que Caia (Cine Teatro Cuiabá) e o musical MÃE, aprovado no edital Cuiabá 300 anos pela Secretaria Municipal de Cultura de Cuiabá. É estudante regular do curso de Letras na Universidade Federal de Mato Grosso/UFMT (Cuiabá) e aluna especial do Mestrado no Programa de Pós-graduação em Linguagem (UFMT). É componente do Coletivo Negro universitário da UFMT e membra do Coletivo Audiovisual Negro Quariterê. Desenvolve trabalho com boneca híbrida individual e com o coletivo “Círculo de Mulheres”, apresentado na Aldeia Rosa Bororo (Sesc Rondonópolis), no Festival de Formadas Animadas – Cuiabá e Sesc Pantanal, em Poconé.
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A Miragem I
Para pra contemplar e verá o quão bonito é
O verde, o farfalhar das folhas
O azul difícil de mirar
Pela falta de costume ótica
Em contemplar o que é natural
Contempla tudo
Desde as pedrinhas
Até os entulhos
E verá que é tudo
Tudo
Artificial
*
Vertigem
Não demora a saber
Que eu quero ficar
Que quero estar éter e
Diluir meu prazer nos líquidos momentos férteis
Que fazem o peito salutar
Seu desprezo é meu prestígio
E me afasto dos litígios, refazendo-me como der
Não há saudade, nem destino
Seu amor é clandestino
E a minha sina é de mulher
Quando não cabe mais no peito, penso que é assim que você quer
Relegando-me às saudades
Alijada na vontade
Com carência de adição
Arrasto-me e sou espetada
Por palavras não faladas
Por um sentimento vão
*
Luzes de Setembro
É noite e o apetite se calou.
Amanhã: desejos, álibis, vestígios, o corpo delito do amor.
Luzes piscando, piscando
É madrugada.
No meu peito congada rei te nomeou.
Luzes inconstantes no corpo inteiro, luzes rutilantes de setembro movendo os destinos no tarô.