Três poemas de Marina Moura
Marina Moura é poeta em tempo integral, editora, redatora, escritora e jornalista. Gosta de percorrer o olhar pelos cenários da vida e descrever poeticamente aquilo que brilhar mais alto. Lançou os livros “Poesia Gay Brasileira” (2017) e “Eternidade — A construção social do banimento do amianto no Brasil” (2019) pela Amarelo Grão, editora que também conduz. Seu primeiro livro de poemas, A incrível capacidade de perder você: poemas de luto amoroso, está em pré-venda pelo site e será publicado pela mesma editora no segundo semestre de 2021.
Os três poemas abaixo integram seu primeiro livro de poemas.
***
Permanência
Eu tive sede
Quis sorver tudo
Sequei lagos
E arrebatei marés
Foi assim que arrumei jeito
De permanecer em pé
Quando tudo era impermanência
Fiz do mar essência
e f(l)ui.
*
Acorda, vai
O coração respira no verde
Corre com as águas
E é sempre doce
Morrer no mar
É a própria vida!
Recuperada, significativa
As tempestades não se sustentam
Pelo infinito do tempo
Tudo se ordena
No exato momento
Em que as forças
Mostram a que vieram
Refaz a cor do mato
O corado da face
A vitalidade do coração
Tudo pulsa em paz de novo
Quando há aceitação
– Sincera.
*
Calmaria
Adorar a paisagem sobre as planícies
Sem desacalmar o correr dos dias
Apalpar as esferas dos semicírculos
Como se transbordar não fosse escolha possível
O ar que ecoa em alguns espaços.
A mania de desfazer a instalação preconcebida
A sorte, cativa do tempo,
Amadurecida dentro dela mesma
É tudo o que resta quando não se tem medo
É festa armada sob os olhos de toda gente
Arrepio sem precedentes:
É vida.